sábado, 24 de novembro de 2007

o guardador de águas I


"a quinze metros do arco-íris o sol é cheiroso"

.... e porque "nas brisas vem sempre o silencio das garças."

... e "Mais alto que o escuro é o rumor dos peixes."

..... e sobretudo "Todas estas informações têm soberba desimportância cientifica - como andar de costas."


Manoel de Barros

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

dia diferente


"No dia seguinte o principezinho voltou. - Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sentirei. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca saberei a que horas é que hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito... São precisos rituais. - Que é um ritual? Perguntou o principezinho. - É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. "


Antoine de Saint-Exupéry in O Principezinho

uma aflição só



FALTA UM POEMA

FALTA UM LUGAR

FALTA DE AR
.

saudade não é salgada não. saudade é doce


Gostar de ver você sorrir

Gastar das horas pra te ver dormir

Enquanto o mundo roda em vão

Eu tomo o tempo

O velho gasta solidão

Em meio aos pombos na Praça da Sé

O pôr do Sol invade o chão do apartamento


Vermelhos são seus beijos

Que meigos são seus olhos

Ver que tudo pode retroceder

Que aquele velho pode ser eu

No fundo da alma há solidão

E um frio que suplica um aconchego


Vermelhos são seus beijos

Quase que me queimam

Que meigo são seus olhos

Lânguida face

Seus beijos são vermelhos

Quase que me queimam

Que meigos são seus olhos

Lânguida face


Ver que tudo pode retroceder

Que aquele velho pode ser eu

No fundo da alma há solidão

E um frio que suplica um aconchego


Vermelhos são seus beijos

Quase que me queimam

Que meigos são seus olhos

Lânguida face

Seus beijos são vermelhos

Quase que me queimam

Que meigos são seus olhos

Lânguida face


Vanessa da Mata


sexta-feira, 9 de novembro de 2007

É a loucura não existe.
A loucura está em todos os lugares ao mesmo tempo.
Normal é o tédio dos dias sem graça que as pessoas fazem pra elas mesmas.
Saudade não é salgada não. A saudade é doce.
Eu quero permanecer calado escutando tudo.
O meu passado é de conversador, bom falador, namorador...
Penso, penso, penso, penso...
Consegui dizer tudo...
Tu ficava atrás das linhas da vida.
Sou de esquerda pô...!
O que eu quero dizer com isso? Nada to comentando!
Porque eu sou da luz, porque o único escuro que eu carrego é a sombra que o meu corpo produz.
Eu dou tantas voltas é proibido parar.
Isoglócia...
Isoglócia é a sua forma de falar, sua expressão, sua variado de seletivas de línguas.
E a pessoa que faz isso e faz aquilo e o que não faz fica mais velho, e a velhice vem mais rápido.
Daqui a pouco encontrar uma carta de euforia.
E quem não é?
Sexo é bom!
Eu paguei pra fazer.
Dez reais.
Foi bom!
Possuir razão e cor.
Pessoas que vivem fora da sanidade.
Falar, falar, falar, falar hen, hen, hen, hen, hen, hen...
Quem é você?
Quem é você?
Quem é você?Quem é você?
Eu to perguntando quem é você?
Eu sou gente!

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quarta-feira, 7 de novembro de 2007

eu me fechava com espumas

Eu sou o medo da lucidez.
Choveu na palavra onde eu estava.
Eu via a natureza como quem a veste.
Eu me fechava com espumas.
Formigas vesúvias dormiam por baixo de trampas.
Piguei umas ideias com as mãos - como a peixes.
Nem era muito que eu me arrumasse por versos.
Aquele arame do horizonte que separava o morro do céu estava rubro.
Um rengo estacionou entre duas frases.
Um descor
Quase uma ilação do branco.
Tinha um palor atormentado a hora.
O pato dejetava liquidamente ali.

Manoel de Barros, in O Guardador de Aguas, 1989