sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

coração tão branco


"[...] pareceu-me grave que eu, porque tinha dinheiro e gastá-lo não me faria diferença, tivesse a possibilidade de decidir onde o homem de pele tisnada podia tocar o seu realejo e onde a mulher da trança podia estender o seu prato. Comprei os passos de ambos, comprei ainda a sua vontade por um instante. Poderia ter-lhe pedido por favor, poderia ter-lhe exposto a situação e deixar que fosse ele a decidir, eles também estavam a trabalhar. Pareceu-me mais seguro oferecer-lhe dinheiro e pôr-lhe uma condição para ficar com ele. «Se for para a outra esquina a seguir», disse-lhe, «dou-lhe esta nota.» Depois, expliquei-lhes as minhas razões, mas, na realidade, eram desnecessárias, não precisava de ter feito isso após ter-lhe oferecido, para ele, era muito e, para mim, não era nada, tinha a certeza de que o aceitaria, o resultado teria sido o mesmo se, ao invés de em seguida referir o meu trabalho, como foi o caso, lhe tivesse dito: «Porque me apetece que se vá embora.» E assim foi, de facto,mesmo sem que lho tivesse dito, mandei-o para a outra esquina porque me apeteceu. Era um homem do realejo afável, como hoje em dia já não há, um vestígio do passado e da minha infância, deveria tê-lo tratado com mais respeito. O pior é que, provavelmente, ele preferia que as coisas se tivessem passado como passaram e não como agora penso que se poderiam ter passado, ou seja, teria preferido a nota ao meu respeito. Poderia ter-lhe pedido por favor que mudasse de sítio depois de lhe ter explicado a minha situação e ter-lhe oferecido a nota caso se mostrasse complacente e compreensivo, uma gratificação ao invés de um suborno, «pelo incómodo» ao invés de «vá-se embora»; contudo, entre as duas coisas não há diferença, em ambas há um sim de permeio, pouco importa que seja explícito ou fique implícito, que venha antes ou depois. Em certo sentido, o que eu fiz foi mais claro e mais limpo, sem hipocrisias nem falsos sentimentos, compensava-nos aos dois, era o que bastava. Todavia, apesar disso, comprei-o e decidi os seus passos, e, na outra esquina para onde o mandei, quem sabe se não terá sido atropelado por um camião de entregas que nesse momento tinha perdido a direcção e galgado o passeio, que não o teria atropelado se o homem de pele tisnada tivesse permanecido na esquina onde escolhera ficar. Acabava-se o chotis; o chapéu caído e o bigodinho ensanguentado. Mas também se poderia dar o contrário e, nesse caso, é provável que lhe tenha salvado a vida ao mandá-lo embora dali.
Isto, porém, são conjecturas e hipóteses, enquanto há alturas em que a vida dos outros, de outro (a configuração de uma vida, a sua continuação, não uns meros passos) depende das nossas decisões e vacilações, da nossa cobardia e do nosso arrojo, das nossas palavras e das nossas mãos e também, às vezes, de nós termos dinheiro e eles não." 

Livro estranhamente escrito como se o coração fosse tão branco, tão branco que nada o faz pulsar e a indiferença tira-lhe a cor. Passar na vida sem ser tocado nem tocar. O poder nas mãos de quem tem coração branco. A reflexão sem humanidade. Um neo-existencialismo...(?)

eu me recuso, faço hora, vou na valsa

... deixar que a natureza se infiltre nesta estação do ano, é a minha praia. Ela surpreende, envolve, domina, põe a humanidade no seu lugar...



... a sua nudez sem pudor, obriga a uma humildade em frente à sua majestade e permite um recolhimento que leva a reflexão, introspeção...



... o turbilhão da água que lava tudo e sorri para dentro de mim...







segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

...e nunca digas "desta água não beberei"...

...pois...
a minha infância foi rodeada por música. Segundo consta, a minha mãe colocava o rádio baixinho ,junto ao berço, para me embalar... crescendo e as viagens de carro eram feitas a cantar música popular portuguesa, ou algumas músicas que o meu pai tinha cantado num coro de Lisboa, Coro Stella Vitae, na década de 50 do século passado. Pai e Mãe tinham vozes fabulosas (hoje imagino, com os conhecimentos que tenho, seriam tenor e  soprano I, respectivamente) e a prole tentava acompanhar a cantoria (a vozes à capela, claro) o melhor que sabíamos. Crescendo e os fins de tarde em casa eram de cantoria, acompanhados à viola, enquanto se aguardava o jantar. Crescendo e os meus gostos musicais foram alterando e adolescência e juventude acrescentaram um gosto pela musica clássica e um (des)gosto pelo canto lírico e respectivos coros. Crescendo por dentro, dou comigo a participar num projecto fantástico, que me abriu novos mundos sonoros e arrepios de cada vez que nos ouço. Uma bênção.



quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Les Misérables


a BBC no seu melhor e que ainda pode ser vista    aqui

domingo, 8 de dezembro de 2019

inexplicável e feliz desígnio


tenho o livro repousando na estante desde setembro de 2016.
hoje li o n.º 19.
curiosamente li a introdução (longa). é outro livro.
"(...) O poema haiku não inferioriza nem zomba, não se serve do intelecto, valoriza as coisas pequenas, valendo-se da surpresa e de um reduzido vocabulário[...], começa ainda antes da primeira letra da primeira estrofe e acaba muito depois da ultima sílaba da terceira estrofe. É poesia despersonalizada, já quase fora da linguagem comum, nasce no silêncio, atravessa, como um relâmpago, o olhar do contemplador e regressa ao silêncio; e enquanto existiu pareceu durar o tempo de um movimento respiratório. Resultante em grande parte da contemplação da beleza e comportamentos da natureza, este estilo poético assume-se como fenómeno que transcende o pessoal, é puro presente, é um momento suspenso, eterno em si mas que não volta a acontecer. Nele, desaparece a separação observador/observado, para dar lugar à ausência de ego, à manifestação do sublime. No final da breve leitura do poema, o leitor arrisca-se a ser percorrido por um calafrio que não poupará nenhuma célula do seu corpo; talvez o seu olhar se semicerre e se suspenda no seio de um horizonte para além do horizonte visível; talvez assome ao canto dos seus lábios o movimento de um sorriso somente perceptível pelo olhar puro das crianças e dos animais.
O haiku, paradigma supremo do conceito de que o que é pequeno é o que está mais perto da beleza , revela-se como um perfeito veículo poético através do qual são postos em movimento inesperados paradoxos e ambivalências que se vão despojando de quase toda a roupagem. Este jogo dará ao leitor a oportunidade única de despertar mecanismos mentais adormecidos, não racionais, capazes de revelar, através de associações atípicas, o que ainda continua oculto na mensagem, nem que para isso ele tenha de virar do avesso os seus mais sólidos padrões mentais. E, sem deixar de se levar uma existência quotidiana normalíssima, pode acontecer que, chegado a esse ponto e por um qualquer golpe mágico do misterioso agora, o atento leitor seja conduzido a vislumbrar o que está por detrás dos fenómenos da vida, que pode muito bem ser algo que tenha a ver com a transcendência do efémero ou com o eterno inverbalizável ou... com o que quer que seja.
[...] E como a caminhada vai ser longa, pois cada terceto é, em si, enigmático e eterno, não vai ser preciso desejar «boa viagem» a quem, num inexplicável e feliz desígnio do momento, escolheu para companheiro de andanças um homem chamado Bashô, que, com um sorriso suavemente brincalhão, lhe há-de falar, com breves palavras (mas de braço dado com o silêncio), do intemporal que há no temporal e de viagens várias não necessariamente geográficas." 
como as leituras são como as cerejas cheguei às obras do tradutor que não esperam pela demora...
do Japão guardo grandes memórias deste filme:



e a música, sempre a música...


quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

orgulhosa


quando a Prole faz coisas bem feitas o coração não cabe cá dentro

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

felizmente resta-nos la naturaleza...

Fui este fim de semana fazer o caminito del Rey, nos vizinhos do lado.
Escrevo isto porque inconscientemente tenho procurado destinos de natureza para que não tenha que ser apresentada ao very typical do folclore teatralizado para turista (que assim o exige) que tem que pagar umas moedas para fazer uma selfie com o "mascarado".
É deprimente... porque a massificação do turismo gerou idiotices (que existem porque o turista quer que seja o genuíno) como o pastel de nata de bacalhau (?!?!?).



Caminito Del Rey
El Torcal de Antequera

O turismo barato criou as visitas sem guias. Os guias credenciados são o que de melhor se tem nas deambulações por esse mundo fora. Eles são e sentem o local, prepararam-se para nos fazerem mergulhar na intensidade do local.










O estado de ansiedade que as viagens baratas de "camioneta da carreira aérea": porque temos que aproveitar, temos que aproveitar, temos que ver muito, temos que fazer muitos "check!" no mapa........................ oh canseira do mundo.
Este tipo de ATL veio preencher o vazio que se possa sentir do dia a dia rotineiro, monótono, mas acho que está a funcionar, como a necessidade compulsiva de fazer compras, para dar alguma saciação interior.
Fico atordoada só de pensar; só de pensar, porque ainda não entrei nessa máquina ansiosa, só por sorte acho eu. Agora que a Prole deixou o ninho, tenho estado mais disponível para escolher, mais ou menos, um programa por mês: coisas mais próximas, preferencialmente em Portugal. Prefiro não saber grandes pormenores  dos programas, gosto de me surpreender, de abrir os olhos e sentir o espanto a entrar pela alma dentro.




  
 


 


Depois eu, interiormente, necessito de tempo para mastigar, ruminar, matutar sobre cada imagem interior que ficou: o tempo da degustação.




... e entretanto voltamos ao nosso fado, claro

terça-feira, 26 de novembro de 2019

domingo, 24 de novembro de 2019

costelas do monte


"Ponte de Telhe é uma farpa humana nas costelas do monte. Quem lá vive frequenta o café. O café fica em frente à estrada, e do outro lado da estrada a terra cai até ao rio. Quem lá vive frequenta a igreja. A igreja fica em frente à estrada, e do outro lado da estrada a terra cai até ao rio. Quem lá vive frequenta o clube cultural. O clube cultural fica em frente à estrada, e do outro lado da estrada a terra cai até ao rio.
Os cinquenta e três habitantes de Ponte de Telhe prestam por isso homenagem à própria estrada. Todos os dias, caso não chova, sentam-se em cadeiras, em geral às três da tarde, e observam os poucos transeuntes como quem possui a estrada. Olhá-los é olhar a estrada, é ver o caminho.
Mas são mensageiros da desgraça. Está tudo velho, nada presta. Este país morreu. Fomos nós que o matámos, nós pomos-lhe as mãos ao pescoço. Apertámos sempre. A estrada não acaba ali, nada acaba ali, somos todos iguais e os políticos também, as mulheres perderam a beleza que nunca tiveram e os homens já não lhes conseguem prestar assistência, se é que alguma vez as assistiram. O café servido no Beira do Rio vem aguado, o filho da senhora do café foi para o Porto e vive com a namorada. Nesta vida só a bilha do gás é renovável e mesmo assim cobram taxa, e além do mais os pássaros já não podem cantar.
Por isso visito Ponte de Telhe como último recurso.
A farpa humana incomoda o monte, enfia-se na pedra como chaga cada vez menos aberta mas cada vez mais dolorosa. A cicatriz ficará suturada quando os velhos morrerem, os novos partirem e as viúvas se fecharem à janela até também elas morrerem na cama que partilharam com os que partiram. Aí, momentos antes, dirão «Meu querido, meu amor», mas ele morreu há muito e só agora, prestes a juntarem-se a ele, sentem a sua falta. Depois o monte e o rio lavarão os vestígios da farpa deixando uma cicatriz muito fina, e não sobrará nada além de ruínas onde nem o toque do homem será perceptível.
Dir-se-á que foi responsabilidade da natureza. "

a entrevista

as origens

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

o mistério, le mystère, the mystery


...decorria o ultimo terço do ano da graça de 1986....
depois de curso terminado a saída era dar aulas. Fui colocada (para desgraça dos alunos) e atabalhoadamente entrei no desolador mundo do trabalho. Conheci um professor de geografia, o D., que me desafiou para me atirar no desconhecido: A RÁDIO.
A primeira experiência foi uma rubrica de 10 minutos, dentro de um programa de D., que seria de leitura de textos e música. Numa autentica tempestade de ideias, entre nós os dois, ficou assim decidido. O meu cantinho, dedicado a mulheres cantoras e mulheres escritoras, chamar-se-ia Sereias Nocturnas e o indicativo o tema The Evening Gathering, deste fabuloso álbum.
Acho bem relembrar que em 1986 não existia internet, youtube, spotify........

bolas...

terça-feira, 19 de novembro de 2019

75 cubanos

I had a black dog




...para quem visita o gato aurélio e também se encontre com este animal de quando em vez....

...eu tenho-me encontrado várias vezes com este cão negro... e nem sequer sou grande apreciadora de cães... mas quando ele se torna pequenino até se ganha afeição ao bicho...

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

arquivos do Sudão




I fell down
And started
Back up then seal the feeling
I’m too unique to kneel
I washed away my fears
And trust in my own ears
My own regret revealed

There is a place that I call home
But it's not where I am welcome
And if I saw all the angels
Why is my presence so painful?

Confessions are falling down
Down
Down
They soak up the dark, damp ground
Ground
Down

I know it's weird
How all this green appeared
I think I dreamt it here
I promise I'm sincere
And as to my own will
Watch me frolic through the fields

Eunice Kathleen Waymon

Não sei se gostei de saber quem era Eunice Kathleen Waymon...




Sei que gosto de Nina Simone


terça-feira, 12 de novembro de 2019

o espírito do dia



I don't want to say that little word again
I don't want to hear it spoken
I don't need another chance
To tumble down again through clouds
To get that word out of my head
Strange thing called love
I don't want to say it's normal
I don't want to say it's so rare
Don't want to think that has happened
Then find out it was never there
Don't want to go and then surrender
To the strange thing called love
Strange thing called love
Don't want to go and then surrender
Lose my hold on the side of the boat
Don't want to find-out I can't float
In a strange thing called love
Called love

sábado, 9 de novembro de 2019

distopia


"Era assim que vivíamos na altura? Mas vivíamos como era costume. Toda a gente vive, a maior parte do tempo. Seja o que for que aconteça, é como de costume. Tudo é como de costume, agora. 
Vivíamos, como de costume ignorando. Ignorar não é o mesmo que ignorância, exige esforço da nossa parte. 
Nada muda de um momento para o outro; numa banheira cuja água aquecesse gradualmente morreríamos cozidos sem dar por isso. Havia histórias nos jornais, claro, cadáveres em valas ou nas matas, mortas à cacetada ou mutiladas, vitimas de violência, como se costumava dizer, mas eram histórias acerca de outras mulheres, e os homens que faziam coisas dessas eram outros homens. Nenhum deles era dos homens que conhecíamos. As historias dos jornais eram como sonhos para nós, sonhos maus sonhados por outras pessoas. Que horror, dizíamos nós, e eram, mas eram horríveis sem serem credíveis. Eram muito melodramáticos, tinham uma dimensão que não era a dimensão das nossas vidas. 
Nós éramos as pessoas que não apareciam nos jornais. Vivíamos nos espaços em branco nas margens das paginas impressas. Dava-nos mais liberdade. 
Vivíamos nos espaços entre as histórias."

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

hoje findei 58

...pois estão findados.
Lagos participou neste end...




Will you surrender? Restless in a war, war
We're sailling, farewell love
We praise our shared destiny
Be sure to embrace the dreams
I'm more than a dead and gone
Close your eyes
I see the past of the time passing fast
The present's over and gone
So know I'm ready, I trust my soul
I'm hoping to fly with style, we shall know
Trust in me and set me free
You're hiding your love
I don't wish to try this alone
I feel lone, why shouldn't I go?
'Cause even the time we're so longing gets blown
I feel I tried
I feel so alone
One day we'll say it to the glow
I dream so too
The dreams turn alive, in the heavens
When we surrender, restless in a war, war





...para amanhã penso em começar os 59...

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

gelo para os hematomas da cabeça




It takes a lot to know a man It takes a lot to understand The warrior, the sage The little boy enraged It takes a lot to know a woman A lot to understand what's humming The honeybee, the sting The little girl with wings It takes a lot to give, to ask for help To be yourself, to know and love what you live with It takes a lot to breathe, to touch, to feel The slow reveal of what another body needs It takes a lot to know a man A lot to know, to understand The father and the son The hunter and the gun It takes a lot to know a woman A lot to comprehend what's coming The mother and the child The muse and the beguiled It takes a lot to give, to ask for help To be yourself, to know and love what you live with It takes a lot to breathe, to touch, to feel The slow reveal of what another body needs It takes a lot to give, to ask for help To be yourself, to know and love what you live with It takes a lot to breathe, to touch, to feel The slow reveal of what another body needs It takes a lot to live, to ask for help To be yourself, to know and love what you live with It takes a lot to breathe, to touch, to feel The slow reveal of what another body needs What are you so afraid to lose? What is it you're thinking that will happen if you do? What are you so afraid to lose? (You wrote me to tell me you're nervous and you're sorry) What is it you're thinking that will happen if you do? (Crying like a baby saying "this thing is killing me") What are you so afraid to lose? (You wrote me to tell me you're nervous and you're sorry) What is it you're thinking that will happen if you do? (Crying like a baby saying "this thing is killing me") You wrote me to tell me you're nervous and you're sorry Crying like a baby saying "this thing is killing me"

é de dar com a cabeça nas paredes


a imagem identifica a peça de teatro.
os semblantes carregados e pouco à vontade identificam a intensidade do que foi vivido no palco.




este foi o que eu vi.
foi de dar com a cabeça nas paredes.

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

escritores urgentes, escritores ruminantes e os poetas

os poetas estão para a escrita assim como os arquitectos estão para as casas.
É assim que os vejo.
A poesia entrou-me pelos ouvidos como a pintura me entrou pelos olhos.
A Rádio acompanhou-me desde que nasci (a "aparelhagem" só entrou na minha adolescência) e foi assim que ouvi chegar a poesia: Rádio Clube Português...? Rubricas de poesia de programas de sábado do Júlio Isidro...? Já lá não consigo chegar....
A televisão trouxe João Villaret, David Mourão Ferreira, Vitorino Nemésio, Mário Viegas, Pedro Lamares.
E de cada audição e visão, as palavras ficavam a pairar cá dentro... na alma.... no coração... hipnotizada é o conceito... coisa só minha, porque ninguém percebia porque eu percebia a poesia....
O Liceu trouxe-me a poesia escrita... procurar poesia tornou-se um conforto... portuguesa, claro, que não domino as línguas outras para perceber a poesia e a traduzida tem a alma do tradutor nas entrelinhas... coisa só minha, porque ninguém percebia porque eu percebia a poesia....
Deixei a poesia para os poetas durante 10 anos (2009-2019), vamos lá saber porquê... (claro que sei)
Neste final de ano de 2019, voltei aos meus poetas, porque não há volta a dar, continuo a ficar hipnotizada... coisa só minha, porque ninguém percebe porque eu percebo a poesia....


lembrando os dias inúteis




continua a ser quarta feira



quarta feira

terça-feira, 29 de outubro de 2019

hora do chá



antes das duas da tarde

There's a story in an ancient play about birds called The Birds
And it's a short story from before the world began
From a time when there was no earth, no land.
Only air and birds everywhere.
But the thing was there was no place to land.
Because there was no land.
So they just circled around and around.
Because this was before the world began.
And the sound was deafening. Songbirds were everywhere.
Billions and billions and billions of birds.
And one of these birds was a lark and one day her father died.
And this was a really big problem because what should they do with the body?
There was no place to put the body because there was no earth.
And finally the lark had a solution.
She decided to bury her father in the back if her own head.
And this was the beginning of memory.
Because before this no one could remember a thing.
They were just constantly flying in circles.
Constantly flying in huge circles.


energia

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

a ocupação livre do espaço

Haiku de hoje:

"roda o vento a rosa
até chegar
ao cais"

com ambiente musical

gentilmente partilhado pelo poeta

para a mandala


como as molas da roupa se cruzam...

... ou como nada acontece por acaso...?


a história da mola da roupa...

....ou como da imagem se chega às palavras...





... achei a história muito boa (no meu contexto de vida é semelhante às minhas idas à Biblioteca Itinerante da Gulbenkian e a minha vontade de reter os livros...). Não gosto de ler o livro depois de ver o filme e assim deixei este escritor em banho maria. Até que li a noticia que tinha escrito Bridge of Clay (gosto mais do titulo original que do tristemente escolhido Nada menos que um milagre)
Markus Zusak escreveu desde 1999 a 2019 sete livros. Para mim está no grupo dos escritores ruminantes. Dez anos para sofrimento, arrependimento, dúvidas mas , para mim, apurar as palavras usadas, como o cozinheiro que prova e acerta os temperos vezes sem fim até desligar o fogão (ou alguém o fazer desligar...) porque nada mais há a melhorar no sabor final.
Foi assim que degustei o livro... parar e saborear...

"respirar a brisa da lixívia"
"A doce agonia de quando se vai fazer algo acontecer, a agonia da novidade."
"No interior, paredes de tom creme e uma tremenda rajada de vazio; tudo ali cheirava a solidão."
"Havia até um corvo, gordo e de penugem volumosa; parecia um pombo de gabardina. Mas não enganava ninguém." 
"deixou uma cicatriz no relvado, e o mundo tornou-se incoerente."
"O Rory, cor de ciclone."
"a Pietá, Cristo como líquido nos braços de Maria."
"a autocaravana tremeu e abanou e tossiu cá para fora um homem."
"Nos seus olhos, metal do melhor que lhe vira em anos." 

Eu só quero que me prendas como mola no sizal...

... ou como do canto se faz luz....





O inverno no joelho quando dobra
Estremece e anuncia esta chuva que me acorda
Novas manhãs, rugas e cãs
Eu por engomar
O tempo dá
O tempo tira
O tempo cobra
O tempo dá
O tempo tira
O tempo cobra
A cadeira quase me devora
O teu cheiro no armário ainda não se foi embora
Onan, bom vivã, a paixão de tão vã
Só veio assombrar
Novas manhãs, trincámos maçãs
E a serpente a olhar
O tempo dá
O tempo tira
O tempo cobra
O tempo dá
O tempo tira
O tempo cobra
E a falta que me fazes no meio deste vendaval
Eu só quero que me prendas como mola no sizal
E a falta que me fazes no meio deste vendaval
Eu só quero que me prendas como mola no sizal.
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João Tordo tem 12 livros editados em 14 anos. Para mim, este ritmo faz dele um escritor urgente. Não os li todos (as leituras são como as viagens... Quantas vezes regressamos ao mesmo país, por mais que tenhamos sido felizes nele...?). Conheci-o em 2008 com o Hotel Memória, fixei a âncora com As Três Vidas. Hoje terminei A mulher que correu atrás do vento . Espanta-me sempre a labiríntica forma de contar as histórias ( a vida também não é em linha recta, pois não...?). Como se todas as histórias tivessem uma pitada de livro policial de Agatha Christie.

se eu continuar a escrever, vou continuar a dizer a verdade[...]. Talvez escrever não seja aquilo que eu pensava que era. Eu não quero dizer a verdade. Pelo contrário: quero escondê-la, ocultá-la dentro de histórias, mascarar a dor com as minhas personagens.

sábado, 26 de outubro de 2019

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Carole Cadwalladr

Carole está completamente obcecada e ainda bem...
Porque este jornalismo precisa de ser divulgado e espero que alguns cidadãos passem pelo gato aurélio e o vejam...




porque inscrevi-me no netflix só para poder ver  isto...


terça-feira, 15 de outubro de 2019

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Valete



este recado tem a ver com uma conversa mãe-filho sobre esta dor de cabeça... não consigo partilhar aqui o video em questão.... mas estou com o Valete!

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

somos como borboletas que voam 1 dia pensando que o farão para sempre*

* Carl Sagan


Todo los que conocemos
Todos los recuerdos
Todos los humanos
Todos los que vendrán
Todos sus pasajeros
Nuestras penas y glorias
Nuestros deseos
Todos los amores que peleamos
Los amores que vinieron para rescatarnos
Los besos impacientes
Los que se quedaron
Entre tu labio y mi vientre
Civilizaciones, bellos y plebeyos
Santos, pecadores
Amantes y abstemios
Sueños adoptados
Grandes y pequeños
Libres y ocupados
Sobre dimensionado
Todos los relatos de nuestras emociones
Partires benditos mil y una religiones
Diminuto escenario
Repleto de sobre poblaciones
Todo todo ocurre en un momento
Un puntito diminuto
Un granito de arena
Una mota de polvo del universo
Todo todo
Ocurre en un instante
Las estrellas dicen
Que nosotros somos fugaces
Blue, diminuto planeta azul
Donde habitan los nuestros
Donde habitas tu oh
Blue, diminuto planeta azul
Donde habitan los nuestros
Donde habitas tu
Blue, el punto de vista lo pones tú tú tú
Todos los que se desviven
Los presos de la prisa
Los relojes que nos persiguen
Todas las palabras enfrentadas
Las palabras que conviven
Ángeles anónimos secretos y costumbres
Ideologías sobre pedestales de lirios
De grandeza prejuicios a la inversa
Leyes que no nos representan
Todo todo ocurre en un momento
Un puntito diminuto
Un granito de arena
Una mota de polvo del universo
Todo todo
Ocurre en un instante
Las estrellas dicen
Que nosotros somos los fugaces
Blue, diminuto planeta azul
Donde habitan los nuestros
Donde habitas tu oh
Blue, diminuto planeta azul
Donde habitan los nuestros
Donde habitas tu
Blue, el punto de vista lo pones tú tú tú
Nuestra alimentada auto importancia
Nuestra falsa proyección
De una posición privilegiada
Nuestro viejo comiendo vidas
Por la gloria de un momento
Nuestro eco apenas llega
Unos milímetros
En la perspectiva del universo
Blue, diminuto planeta azul
Donde habitan los nuestros
Donde habitas tu oh
Blue, diminuto planeta azul
Donde habitan los nuestros
Donde habitas tu
Blue, el punto de vista lo pones tú tú tú tú tú
:: Letra: Dani Macaco

:: Letra: Dani Macaco