sábado, 15 de setembro de 2007

somos primatas imaturos

".....somos um primata imaturo, o mais desprotegido da natureza. Só não desaparecemos porque colaboramos uns com os outros. No dia em que a sociedade de consumo nos converter em individuos robô, corremos o risco de perder a corrida.

Identificamo-nos com o insólito e as figuras que fazem as audiências da televisão. Deixamo-nos hipnotizar pelo poder dos media e transportamos essas referencias para a nossa realidade. E se há uns tempos as pessoas partilhavam a atenção em torno de grupos e das familias, hoje concentramo-nos nas tecnologias individuais - têm o seu próprio televisor, computador, telemóvel, blogue - e perdem a dimensão dos outros.

Descobrimos quem somos através de interacções regulares com os outros. O mercantilismo actual compromete a identidade pela velocidade e incerteza.

Estamos a assistir à expansão das personalidades borderline (desviantes). É frequente os jovens terem hoje experiências diversas e contraditórias e relacionamentos sexuais sem significado. A sensação de perda de identidade pode manifestar-se na vontade de estar sempre a mudar o próprio corpo e, não raras vezes, em pensamentos suicidas e condutas de auto-mutilação, ultimo recurso para serem capazes de sentir.

Aparecem pessoas com crises de identidade e concepções ilusórias sobre a vida. A evolução dos papeis sociais tem conduzido ao desencontro entre homens e mulheres. O ensino de papel e lápis não ajuda, favorece as raparigas que, mais qualificadas academicamente, não encontram parceiros à altura, no plano cultural. Tal evidência leva-me a defender a discriminação positiva dos homens a partir do secundário."





Pio Abreu, psiquiatra, in Revista Visão de 6 de Setembro de 2007