Onde estavas
tu quando fiz vinte anos
E tinha uma boca de anjo pálido?
Em que sítio estavas quando o Che foi
estampado
Nas camisolas das teen-agers de todos os
estados da América?
Em que covil ou gruta esconderam as suas armas
Para com elas fazer posters cinzeiros e emblemas?
Onde te encontravas quando lançaram mão a
isto?
E atrás de quê te ocultavas quando
Mataram Luther King para justificar sei lá que
agressões
Ao mesmo tempo que víamos Música no Coração
Mastigando chiclets numa matinée do cinema
Condes?
Por onde andavas que não viste os corações
brancos
Retalhados na Coreia e no Vietname
Nem ouviste nenhuma das canções de Bob Dylon
Virando também as costas quando arrasaram Wiriammu
E enterraram vivas
Mulheres e crianças em nome
De uma pátria una e indivisível?
Que caminho escolheram os teus passos no
momento em que
Foram enforcados os guerrilheiros negros da
África do Sul
Ou Allende terminou o seu último discurso?
Ainda estavas presente quando Victor Jara
Pronunciou as últimas palavras?
E nem uma vez por acaso assististe
Às chacinas do Esquadrão da Morte?
Fugiste de Dachau e Estalinegrado?
Não puseste os pés em Auschwitz?
Que diabo andaste a fazer o tempo todo
Que ninguém te encontrou em lugar algum.
Perguntas, Joaquim Pessoa (1948-2023)
não sou nada de fazer estes registos mas o Joaquim Pessoa faz parte da minha educação na poesia.
foram os seus livros, os primeiros a serem comprados com a curta mesada que tinha.
ficas cá dentro para sempre!