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terça-feira, 29 de julho de 2025

sexta-feira, 23 de maio de 2025

... amei homens equivocados...

 Nací un día equivocado.

En un país equivocado.
En una calle equivocada.
Amé a mujeres equivocadas.
Visité bares equivocados y tuve amigos equivocados.

Y así todo se fue dando.
Trenes que no conducían a ninguna parte.
Aviones que no aterrizaban.
Buses que salían fuera de horario.
Barcos que se hundían.

Y así fui por la vida.
Mi equipo favorito pierde.
Los botones de mi camisa desaparecen.
Mi cantante preferido se suicida.
Mi horóscopo indica nubarrones
y la chica que amaba se fue con mi mejor amigo.

En verdad que no sé por qué mierda soy tan feliz.


Hugo Vera Miranda, DAQUI

_________________________________________________

Nasci num dia equivocado,
num país equivocado
e numa rua equivocada.
Amei mulheres equivocadas,
fui a bares equivocados e tive amigos equivocados.

E assim se foi dando tudo,
comboios que não iam a nenhum lado,
aviões que não aterravam,
autocarros que saíam fora do horário,
barcos que se afundavam.

E assim fui pela vida,
a minha equipa perde,
os botões da camisa vão-se-me,
o meu artista mata-se,
o meu horóscopo indica nuvens
e a miúda que amava fugiu com o meu melhor amigo.

De verdade não sei por que porra sou tão feliz.

Hugo Vera MirandaDAQUI


sexta-feira, 25 de abril de 2025

25 DE ABRIL SEMPRE!

 


A revolução é como a primavera
Regenera!
A nossa revolução aconteceu na primavera
Pudera!
A nossa revolução tem nome de flor
E toda a flor quer ser floresta
Foi uma festa!
As ervas daninhas deixaram de ser pisadas
As aves canoras deixaram de ser caladas
As vinhas encheram mais copos para brindar à paz
e fazer dançar os corpos
As searas de trigo passaram a dar mais pão
partilhado de mão em mão
Porque aquela fome de cão outra vez?
Nem mortos!
Mas passada a primavera,
chegados à maturidade,
cientes do que nos espera
perante a calamidade
Diante do longo inverno
Do calor de mil infernos
Diante da fúria dos elementos
Destes tempos, incertos
Haverá outra causa tão urgente como a sobrevivência?
Chegados aqui, conscientes,
munidos de toda a ciência,
haverá coisa mais premente
do que salvar toda a gente?
Do que a nossa mera existência?

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

terça-feira, 18 de abril de 2023

fazendo "perguntas"


 







Onde estavas

tu quando fiz vinte anos

E tinha uma boca de anjo pálido?

Em que sítio estavas quando o Che foi estampado

Nas camisolas das teen-agers de todos os estados da América?

Em que covil ou gruta esconderam as suas armas

Para com elas fazer posters cinzeiros  e emblemas?

Onde te encontravas quando lançaram mão a isto?

E atrás de quê te ocultavas quando

Mataram Luther King para justificar sei lá que agressões

Ao mesmo tempo que víamos Música no Coração

Mastigando chiclets numa matinée do cinema Condes?

Por onde andavas que não viste os corações brancos

Retalhados na Coreia e no Vietname

Nem ouviste nenhuma das canções de Bob Dylon

Virando também as costas quando arrasaram Wiriammu

E enterraram vivas

Mulheres e crianças em nome

De uma pátria una e indivisível?

Que caminho escolheram os teus passos no momento em que

Foram enforcados os guerrilheiros negros da África do Sul

Ou Allende terminou o seu último discurso?

Ainda estavas presente quando Victor Jara

Pronunciou as últimas palavras?

E nem uma vez por acaso assististe

Às chacinas do Esquadrão da Morte?

Fugiste de Dachau e Estalinegrado?

Não puseste os pés em Auschwitz?

Que diabo andaste a fazer o tempo todo

Que ninguém te encontrou em lugar algum.


Perguntas, Joaquim Pessoa (1948-2023)


não sou nada de fazer estes registos mas o Joaquim Pessoa faz parte da minha educação na poesia.

foram os seus livros, os primeiros a serem comprados com a curta mesada que tinha.

ficas cá dentro para sempre!



sábado, 20 de março de 2021

"...continuamente vemos novidades, diferentes em tudo da esperança..."**

 vem tudo a propósito desta noticia

em tempos de amargura para o setor da cultura, as plataformas que funcionam são utilizadas para se fazerem ouvir as vozes deste mundo apartado da realidade.


(ver letra no texto do vídeo)

mas as plataformas ainda tem regras de antes desta noite fria.

se não mudarem as regras, servem para quê?

quem ouve ou vê?

neste cantinho do poeta Camões, damos oportunidade a uma coisa que não aquece nem arrefece, como meninos bem comportados... porque, segundo parece, a nossa língua é muito complicada

o mundo deve mesmo **  ser composto de mudança...

segunda-feira, 20 de julho de 2020

caçar coelhos só com sílabas

a "culpa" é dele .
que palavras estas!
é importante conhecer mas também é doloroso saber que alguém se sente assim.
quase heróico.
não mártir.
incómodo.


erro de sintaxe

De comunicação não percebo nada
gosto é de genocídios de palavras
de caçar coelhos só com sílabas
disparar sobre tudo
apenas com uma junção de letras
até ficar sozinha, só eu
e a minha incompreensão
que nunca é a dos outros, que
usam sempre outra sintaxe.

Não sou capaz é de silêncio
não dá lucro, não faz viver
o silêncio incorpora sempre
uns braços cruzados, uma desistência
pendurada na língua
um ar de lesma muda, sem opinião
e eu até posso perder
mas aos pulos, de socos no ar
montada num canhão de bandeira
hasteada a disparar a minha sintaxe
não a dos outros, que é deles
não quero nada que não me pertença, nunca quis
e das poucas coisas que tenho
é o que me sai da boca
que mesmo que já mastigado
não me deixa a barriga vazia.


Se não me faço entender
é porque nem sempre é fácil admitir que
sou a primeira a render-me
tantas vezes que nem aqui estou
que nunca sei quando venho
tantas vezes não quero desistir
que nem chego ao começo
já sei que é uma ousadia querer compreensão
de nada serve,
cada um tem uma, muito própria
e a subjectividade é inabalável

Seriam precisos infinitos livros para
me exprimir, para chegar por palavras
à compreensão, à minha.
Mas mesmo assim,
nunca seria a dos outros.



Cláudia R. Sampaio





quinta-feira, 16 de julho de 2020

extinto por lei todo o remorso


BEM NO FUNDO


No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto


a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo


extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais


mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.


DAQUI

terça-feira, 7 de abril de 2020

Dia 23* - ostra feliz não faz pérola

Passiflora, estranha e bela como a do maracujá
A minha flor é Florbela e espanca o teu patoá
Não me espanta se essa gera não me alcança e digo já
P'ra essa fauna, como Flora eu vou só "deixá brilhá"
Vou sem culpa, sou adulta, e muito culta para agradar
Estou na luta e na disputa não me custa dominar!
Fosse fácil, eram muitas, se fosse doce eram mais
Não me moldo nem ao soldo, nem à bênção dos demais
Eles preferem os discos que ainda não saíram
Eles preferem promessas daqueles que desistiram
Eles preferem os mitos dos que podiam ter sido
Dos que podiam ter feito, do que queriam ter ouvido
Preferem os mortos, eles fartam-se dos vivos
Eles fartam-se dos discos, eles preferem os vídeos
Eles querem-nos mansos, criados, mal sucedidos
Senão somos vendidos, somos pouco alternativos
E se sai um disco novo perguntam quando é o próximo
E em seguida disso “porquê o pseudónimo?”
E é óbvio, pérolas a porcos
Com as feras a postos, só para te mastigar

Com síndroma de porteiro de discoteca!
Não sou cool p'ra esses cínicos
Nem nova p'ra esses críticos
Que procuram girinos de novas cenas indígenas
Farta de sabidos pseudo profetas
“Júlio Isidros” dessas raras descobertas
Não sou teen p'ra esses putos
Nem ligo puto a esses grupos
Os que ditam o futuro do mundo
Estou nos antípodas
Dizem-se lendas quando as lendas somos nós
E não sabem que na história, nem vê-los, estaremos sós!
E depois os puritanos, que desdenham do sucesso
E depois de tantos anos se defendem no começo
E que eu conheço do meu tempo
E a quem digo que o que eu faço
É o mesmo de sempre, é hip hop clássico!
E não disfarço que o levo a novo público
Que eu abraço e acolho com orgulho
E que o hip hop que eu quero para o futuro
Não será conservador, nem machista, nem burro!
Por isso estranhem-me, porque eu entranho-me
Fora da caixa, Passiflora, mantenho-me!
Por isso apanhem-me, se conseguirem
Eu fujo à regra porque a regra restringe-me!
E se me afasto não será presunção
A distância entre nós é só a comparação

Não fiz hits de verão e não é por não saber como
Não sou cena do momento
E ao tempo que eu estou no topo
Não confundam o bom gosto com falta de público
E aproveitem este disco porque pode ser o último!
Na net a novidade é um triz, diz:
Se andas anos nisto é do risco que vives?
Selfies dão mais likes que um disco, diz-me:
Porque é que fazes isto, porque é tu que insistes?
Se é trap não é rap, se é hit leva hate
Boom bap é retrocesso, se é sucesso já é fake
Se tem putos bota fora, se não tem views é um flop
Se é adulto já é cota, transversal não é hip hop
“É conhecido? Já não curto, curtia mais o primeiro.”
“É repetido ou muda muito, não vale a pena o dinheiro”
Se fosses mais bonita, mais sexy, na moda
Ou um homem, mais jovem, mais dentro da norma
Terias mais alcance, mais chance, na indústria
Se fosses mais dócil, mais fácil na música?
Terias mais views, mais likes, mais público
Se fosses mais hipster, se fosses mais estúpida?
Terias mais fãs, mais buzz, mais glória?
Para quê o hype se eu prefiro fazer história?
Passiflora, a minha beleza é estranha
Meu fado chora mas move montanhas

Eu ofereço a minha voz
Flor que se dá
Estranha e bela
Como a do maracujá
Eu ofereço a minha voz
Flor que se dá
Estranha e bela

Como a do maracujá

sábado, 28 de março de 2020

Dia 13* - Frankly, Miss Scarlett, I don't give a damn



Twas a dark day in Dallas, November '63
A day that will live on in infamy
President Kennedy was a-ridin’ high
Good day to be livin' and a good day to die
Being led to the slaughter like a sacrificial lamb
He said, "Wait a minute, boys, you know who I am?"
"Of course we do. We know who you are."
Then they blew off his head while he was still in the car
Shot down like a dog in broad daylight
Was a matter of timing and the timing was right
You got unpaid debts; we've come to collect
We're gonna kill you with hatred; without any respect
We'll mock you and shock you and we'll put it in your face
We've already got someone here to take your place

The day they blew out the brains of the king
Thousands were watching; no one saw a thing
It happened so quickly, so quick, by surprise
Right there in front of everyone's eyes
Greatest magic trick ever under the sun
Perfectly executed, skillfully done
Wolfman, oh wolfman, oh wolfman howl
Rub-a-dub-dub, it's a murder most foul

Hush, little children. You'll understand
The Beatles are comin'; they're gonna hold your hand
Slide down the banister, go get your coat
Ferry 'cross the Mersey and go for the throat
There's three bums comin' all dressed in rags
Pick up the pieces and lower the flags
I'm going to Woodstock; it's the Aquarian Age
Then I'll go to Altamont and sit near the stage
Put your head out the window; let the good times roll
There's a party going on behind the Grassy Knoll
Stack up the bricks, pour the cement
Don't say Dallas don't love you, Mr. President
Put your foot in the tank and step on the gas
Try to make it to the triple underpass
Blackface singer, whiteface clown
Better not show your faces after the sun goes down
Up in the red light district, they've got cop on the beat
Living in a nightmare on Elm Street

When you're down in Deep Ellum, put your money in your shoe
Don't ask what your country can do for you
Cash on the ballot, money to burn
Dealey Plaza, make left-hand turn
I'm going down to the crossroads; gonna flag a ride
The place where faith, hope, and charity died
Shoot him while he runs, boy. Shoot him while you can
See if you can shoot the invisible man
Goodbye, Charlie. Goodbye, Uncle Sam
Frankly, Miss Scarlett, I don't give a damn

What is the truth, and where did it go?
Ask Oswald and Ruby; they oughta know
"Shut your mouth," said the wise old owl
Business is business, and it's a murder most foul

Tommy, can you hear me? I'm the Acid Queen
I'm riding in a long, black limousine
Riding in the backseat next to my wife
Heading straight on in to the afterlife
I'm leaning to the left; got my head in her lap
Hold on, I've been led into some kind of a trap
Where we ask no quarter, and no quarter do we give
We're right down the street from the street where you live
They mutilated his body, and they took out his brain
What more could they do? They piled on the pain
But his soul's not there where it was supposed to be at
For the last fifty years they've been searchin' for that

Freedom, oh freedom. Freedom cover me
I hate to tell you, mister, but only dead men are free
Send me some lovin'; tell me no lies
Throw the gun in the gutter and walk on by
Wake up, little Susie; let's go for a drive
Cross the Trinity River; let's keep hope alive
Turn the radio on; don't touch the dials
Parkland hospital, only six more miles

You got me dizzy, Miss Lizzy. You filled me with lead
That magic bullet of yours has gone to my head
I'm just a patsy like Patsy Cline
Never shot anyone from in front or behind
I've blood in my eye, got blood in my ear
I'm never gonna make it to the new frontier
Zapruder's film I seen night before
Seen it 33 times, maybe more
It's vile and deceitful. It's cruel and it's mean
Ugliest thing that you ever have seen
They killed him once and they killed him twice
Killed him like a human sacrifice

The day that they killed him, someone said to me, "Son
The age of the Antichrist has only begun."
Air Force One coming in through the gate
Johnson sworn in at 2:38
Let me know when you decide to thrown in the towel
It is what it is, and it's murder most foul

What's new, pussycat? What'd I say?
I said the soul of a nation been torn away
And it's beginning to go into a slow decay
And that it's 36 hours past Judgment Day

Wolfman Jack, speaking in tongues
He's going on and on at the top of his lungs
Play me a song, Mr. Wolfman Jack
Play it for me in my long Cadillac
Play me that "Only the Good Die Young"
Take me to the place Tom Dooley was hung
Play St. James Infirmary and the Court of King James
If you want to remember, you better write down the names
Play Etta James, too. Play "I'd Rather Go Blind"
Play it for the man with the telepathic mind
Play John Lee Hooker. Play "Scratch My Back."
Play it for that strip club owner named Jack
Guitar Slim going down slow
Play it for me and for Marilyn Monroe

Play "Please Don't Let Me Be Misunderstood"
Play it for the First Lady, she ain't feeling any good
Play Don Henley, play Glenn Frey
Take it to the limit and let it go by
Play it for Karl Wirsum, too
Looking far, far away at Down Gallow Avenue
Play tragedy, play "Twilight Time"
Take me back to Tulsa to the scene of the crime
Play another one and "Another One Bites the Dust"
Play "The Old Rugged Cross" and "In God We Trust"
Ride the pink horse down the long, lonesome road
Stand there and wait for his head to explode
Play "Mystery Train" for Mr. Mystery
The man who fell down dead like a rootless tree
Play it for the Reverend; play it for the Pastor
Play it for the dog that got no master
Play Oscar Peterson. Play Stan Getz
Play "Blue Sky"; play Dickey Betts
Play Art Pepper, Thelonious Monk
Charlie Parker and all that junk
All that junk and "All That Jazz"
Play something for the Birdman of Alcatraz
Play Buster Keaton, play Harold Lloyd
Play Bugsy Siegel, play Pretty Boy Floyd
Play the numbers, play the odds
Play "Cry Me A River" for the Lord of the gods
Play Number 9, play Number 6
Play it for Lindsey and Stevie Nicks
Play Nat King Cole, play "Nature Boy"
Play "Down In The Boondocks" for Terry Malloy
Play "It Happened One Night" and "One Night of Sin"
There's 12 Million souls that are listening in
Play "Merchant of Venice", play "Merchants of Death"
Play "Stella by Starlight" for Lady Macbeth

Don't worry, Mr. President. Help's on the way
Your brothers are coming; there'll be hell to pay
Brothers? What brothers? What's this about hell?
Tell them, "We're waiting. Keep coming." We'll get them as well

Love Field is where his plane touched down
But it never did get back up off the ground
Was a hard act to follow, second to none
They killed him on the altar of the rising sun
Play "Misty" for me and "That Old Devil Moon"
Play "Anything Goes" and "Memphis in June"
Play "Lonely At the Top" and "Lonely Are the Brave"
Play it for Houdini spinning around his grave
Play Jelly Roll Morton, play "Lucille"
Play "Deep In a Dream", and play "Driving Wheel"
Play "Moonlight Sonata" in F-sharp
And "A Key to the Highway" for the king on the harp
Play "Marching Through Georgia" and "Dumbarton's Drums"
Play darkness and death will come when it comes
Play "Love Me Or Leave Me" by the great Bud Powell
Play "The Blood-stained Banner", play "Murder Most Foul"

Prémio Nobel da Literatura 2017

*Sugestão de utilização
.
.


domingo, 22 de março de 2020

Dia 7* - deslocando a cadeira

SOLAR

Poderia praticar esta forma de vida
que me assenta melhor do que a minha.
Quero dizer
é dentro da cabeça
e fora da minha vida
que me sinto menos só.

Poderia ficar aqui algum tempo
deslocando a cadeira
para acompanhar a trajectória do sol.
Não o faço.
Abro a porta que dá para a casa
e deixo devoluta a vida
imaginária no jardim.



(sugerido pelo "Amor é" de hoje)



*Sugestão de utilização


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

história da estória

tenho uma relação com a língua portuguesa muito aberta. Os acordos ortográficos não me apoquentam. Há palavras que aparecem e, não percebendo de onde, fico curiosa. Há novidades que gosto e outras que me avariam o sistema nervoso. Nunca na vida irei usar fato em vez de facto, mesmo que os defensores do acordo me torturem. Não quero ler a frase duas vezes antes de perceber se estou em ambiente de moda ou de constatações. Não irei tirar o Egipto aos Egípcios. Mas, por exemplo à electricidade, poupo e escrevo eletricidade. Assim nos mandam fazer em nome do ambiente. Irei continuar a escrever história porque dá outra profundidade às estórias que se escrevem. Tem o peso do tempo e do espaço.



sábado, 1 de fevereiro de 2020

biombo da escrita

A verdadeira mão que o poeta estende
não tem dedos:
é um gesto que se perde
no próprio acto de dar-se

O poeta desaparece
na verdade da sua ausência
dissolve-se no biombo da escrita

O poema é
a única
a verdadeira mão que o poeta estende

E quando o poema é bom
não te aperta a mão:
aperta-te a garganta

sábado, 25 de janeiro de 2020

mover-me apenas em direcção ao que gosto

Sei isto: a minha energia está canalizada
Para a palavra fazer, gosto da ideia de construção
E o que dela existe nos movimentos normais.
Agrada-me a palavra engenharia e o que ela
Representa: não saias de um sitio sem deixares algo
Atrás de ti. Dirijo-me apenas às coisas que me excitam
Positivamente e me levam a fazer outra coisas, dirijo-me
Às pessoas de que gosto, nunca às de que não gosto;
Sempre me pareceu insensato que se pare,
Nem que por um momento, de admirar, há
Sempre actos e coisas que nos ajudam
neste cálculo infernal da distância entre o dia de hoje
e a nossa morte. E qualquer pessoa dar um passo que seja
em direcção ao que não aprecia, para insultar ou derrubar,
parece-me brutal perda de tempo, uma falha grave
no órgão de admirar o mundo
(deves combater uma ou duas vezes na vida,
se combateres duzentas vezes
é porque os combates são fracos).
Não sei pois como viver. O que li e vi
Serve-me apenas para ser mais lúcido, não
Para ser melhor pessoa. Adquiri esta regra (ou nasci com ela):
- e é talvez uma moral -
mover-me apenas em direcção ao que gosto.
Se o prédio alto, escuro, feio
me impede de ver o sol, não fico a insultá-lo, não
moverei um dedo para o deitar a baixo:
contorno sim os edifícios necessários
até chegar ao espaço onde possa receber aquilo que
quero. Se chegar lá de noite, montarei acampamento.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

eu não sou um livro

Não gosto tanto
de livros
como Mallarmé
parece que gostava
eu não sou um livro
e quando me dizem
gosto muito dos seus livros
gostava de poder dizer
como o poeta Cesariny
olha
eu gostava
é que tu gostasses de mim
os livros não são feitos
de carne e osso
e quando tenho
vontade de chorar
abrir um livro
não me chega
preciso de um abraço
mas graças a Deus
o mundo não é um livro
e o acaso não existe
no entanto gosto muito
de livros
e acredito na Ressurreição
dos livros
e acredito que no céu
haja bibliotecas
e se possa ler e escrever


segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

amanhecer descobrindo

David Ferreira tem uma rubrica preciosa na Antena 1.

Vinicius e Baden Powell encontram-se...




...e dá nisto.

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

escritores urgentes, escritores ruminantes e os poetas

os poetas estão para a escrita assim como os arquitectos estão para as casas.
É assim que os vejo.
A poesia entrou-me pelos ouvidos como a pintura me entrou pelos olhos.
A Rádio acompanhou-me desde que nasci (a "aparelhagem" só entrou na minha adolescência) e foi assim que ouvi chegar a poesia: Rádio Clube Português...? Rubricas de poesia de programas de sábado do Júlio Isidro...? Já lá não consigo chegar....
A televisão trouxe João Villaret, David Mourão Ferreira, Vitorino Nemésio, Mário Viegas, Pedro Lamares.
E de cada audição e visão, as palavras ficavam a pairar cá dentro... na alma.... no coração... hipnotizada é o conceito... coisa só minha, porque ninguém percebia porque eu percebia a poesia....
O Liceu trouxe-me a poesia escrita... procurar poesia tornou-se um conforto... portuguesa, claro, que não domino as línguas outras para perceber a poesia e a traduzida tem a alma do tradutor nas entrelinhas... coisa só minha, porque ninguém percebia porque eu percebia a poesia....
Deixei a poesia para os poetas durante 10 anos (2009-2019), vamos lá saber porquê... (claro que sei)
Neste final de ano de 2019, voltei aos meus poetas, porque não há volta a dar, continuo a ficar hipnotizada... coisa só minha, porque ninguém percebe porque eu percebo a poesia....


domingo, 24 de fevereiro de 2008

sopra demais o vento......

Sopra de mais o vento
Para eu poder descansar...
Há no meu pensamento
Qualquer coisa que vai parar...
Talvez esta coisa da alma
Que acha real a vida...
Talvez esta coisa calma
Que me faz a alma vivida...
Sopra um vento excessivo...
Tenho medo de pensar...
O meu mistério eu avivo
Se me perco a meditar.
Vento que passa e esquece,
Poeira que se ergue e cai...
Ai de mim se eu pudesse
Saber o que em mim vai!...

Fernando Pessoa, in Cancioneiro



sexta-feira, 28 de setembro de 2007

o meu bosque de outono



(...)


Mas tu vieste.




Do coração da noite?


Dos braços da manhã?


Dos bosques do outono?




Tu vieste.


(...)




Joaquim Pessoa in Os olhos de Isa