...mas eu não
"Muito depende de sermos capazes de estar no momento em que estamos, sem pensar no que fizemos para ali estar ou nos preocuparmos para onde vamos a seguir. Se pudéssemos ser inteiramente inteligentes, não pensaríamos senão no momento em que estivéssemos, sem expectativas. Para estarmos à espera, sem saber de quê.
Anteontem, durante um segundo de um almoço de Agosto, pousou num copo uma borboleta espampanante. E logo voou, deixando-nos a falar dela.
O momento e o tempo estão ligados como o nosso coração e a nossa alma. Tenho a certeza que todos os dias somos visitados por lembranças do muito que nos pode acontecer, do pouco que sabemos e do pouco tempo que temos para ficar com uma pequena ideia do que tudo isto é.
Estas visitas espantosas, em que só se repara por sorte, só são bem recebidas e apreciadas quando a nossa atenção se desliga de nós próprios e do mundo que gira dentro de nós e se vira, como se de uma casa vazia se tratasse, para fora. Há um estado activo de recepção, de estarmos prontos para o que vier, sem termos nada marcado ou expectativa nenhuma.
Não se consegue ver a borboleta se estivermos à espera dela e resolvermos: "Agora vou estar aqui sentado, com a cabeça esvaziada, inteiramente distraído pelo que me rodeia, à espera que me apareça pela frente uma coisa maravilhosa".
É quando se está com quem se ama que se é mais visitado. Se calhar, o que atrai as visitas é a doçura da companhia e a distracção em que o amor vive. Ali."