sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

as pessoas sozinhas vão achar isto muito irritante...

...mas eu não

"Muito depende de sermos capazes de estar no momento em que estamos, sem pensar no que fizemos para ali estar ou nos preocuparmos para onde vamos a seguir. Se pudéssemos ser inteiramente inteligentes, não pensaríamos senão no momento em que estivéssemos, sem expectativas. Para estarmos à espera, sem saber de quê.
Anteontem, durante um segundo de um almoço de Agosto, pousou num copo uma borboleta espampanante. E logo voou, deixando-nos a falar dela.
O momento e o tempo estão ligados como o nosso coração e a nossa alma. Tenho a certeza que todos os dias somos visitados por lembranças do muito que nos pode acontecer, do pouco que sabemos e do pouco tempo que temos para ficar com uma pequena ideia do que tudo isto é.
Estas visitas espantosas, em que só se repara por sorte, só são bem recebidas e apreciadas quando a nossa atenção se desliga de nós próprios e do mundo que gira dentro de nós e se vira, como se de uma casa vazia se tratasse, para fora. Há um estado activo de recepção, de estarmos prontos para o que vier, sem termos nada marcado ou expectativa nenhuma.
Não se consegue ver a borboleta se estivermos à espera dela e resolvermos: "Agora vou estar aqui sentado, com a cabeça esvaziada, inteiramente distraído pelo que me rodeia, à espera que me apareça pela frente uma coisa maravilhosa".
É quando se está com quem se ama que se é mais visitado. Se calhar, o que atrai as visitas é a doçura da companhia e a distracção em que o amor vive. Ali."