Senhores, cortam-se por ano cabeças demais em França. Pois que andais a fazer economias, fazei mais uma com isso.
Pois que estais em veia de supressões, suprimi o carrasco. Com o soldo dos vossos oitenta carrascos, pagareis seiscentos mestres-escolas.
Pensai no grosso do povo. Escolas para as crianças, oficinas para os homens.
Sabeis que a França é um dos países da Europa onde há menor número de nativos que sabem ler?
O quê? a Suíça sabe ler, a Bélgica sabe ler, a Dinamarca sabe ler, a Grécia sabe ler, a Irlanda sabe ler, e a França não sabe ler! É uma vergonha.
Ide às prisões. Chamai para a vossa volta todos os forçados. Examinai um a um todos esses condenados da lei humana. Calculai a inclinação de todos esses perfis, tacteai todos esses crânios. [...]. Ora, dessas cabeças mal formadas, o primeiro defeito está na natureza sem dúvida, o segundo na educação.
A natureza esboçou mal, a educação retocou mal o esboço. Voltai os vossos cuidados para este lado. Uma boa educação ao povo. Desenvolvei quanto puderdes essas infelizes cabeças, a fim de que a inteligência que está dentro possa aumentar.
[...]
Essa cabeça do homem do povo, cultivai-a, arroteai-a, regai-a, fecundai-a, iluminai-a, moralizai-a, utilizai-a; não tereis necessidade de a cortar.
Victor Hugo in Claude Gueux, 1834*