sábado, 20 de julho de 2019

A Coluna Vertebral

Encontros Imediatos

O eterno João Gobern em (des)encontros com a Margarida Pinto Correia. (des) porque acho que realmente a maior parte das vezes não funciona muito bem mas não é por isso que escrevo esta memória.

A escolha musical de João Gobern:



O programa de hoje tem DOIS ACTORES COM LETRAS ENORMES.

A Coluna Vertebral da Arte.

A escolha musical da Ana Bola:




O momento de José Pedro Gomes:





O momento de Ana Bola

Por que é que os Teatros estão vazios? Pura e simplesmente porque o público não vai lá. De quem é a culpa? Unicamente do Estado. Se cada um de nós se visse obrigado a ir ao Teatro, as coisas mudavam completamente de figura. Por que não instituir o teatro obrigatório? Por que é que se instituiu a escola obrigatória? Porque nenhum aluno ia à escola se não fosse obrigado. É verdade que era mais difícil instituir o teatro obrigatório, mas com boa vontade e sentido do dever, não é facto que tudo se consegue?
E além do mais, não será o teatro uma escola? Então…
O teatro obrigatório podia, ao nível das crianças, iniciar-se com um repertório que apenas incluísse contos como o “Pequeno Polegarzão” ou “O Lobo Mau e as Sete Brancas de Neve”…
Numa grande cidade pode haver – admitamos – cem escolas. Com mil crianças por escola todos os dias, teremos cem mil crianças. Estas cem mil crianças vão de manhã à escola e à tarde ao teatro obrigatório. Preço de entrada por pessoa-criança: cinquenta cêntimos – a expensas do Estado, é claro – dá, cem teatros cada um com mil lugares sentados: 500 euros por teatro, faz portanto 50.000 euros para cem teatros, por cidade.
Quantos actores não arranjavam trabalho! Instituindo, distrito a distrito, o teatro obrigatório, modificava-se por completo a vida económica. Porque não é bem a mesma coisa pensarmos: “Vou ou não vou hoje ao teatro?” ou pensarmos: “Tenho que ir ao teatro!”. O teatro obrigatório levava o cidadão em causa a renunciar voluntariamente a todas as outras estúpidas distracções, às cartas, às discussões políticas na taberna, aos encontros amorosos e a todos esses jogos de sociedade que nos tomam e devoram o tempo todo.
Sabendo que tem de ir ao teatro, o cidadão já não será forçado a optar por um espectáculo, nem a perguntar-se se irá ver o Fausto em vez de outra coisa qualquer – não, assim é obrigado a ir, cause-lhe o teatro horror ou não, trezentas e sessenta e cinco vezes por ano ao teatro. Ir à escola também causa horror ao menino da escola e no entanto ele lá vai porque a escola é obrigatória. Obrigatório! A imposição! Só pela imposição é que hoje se consegue obrigar o nosso público a vir ao teatro. Tentou-se, durante dezenas e dezenas de anos, convencê-lo com boas palavras e está-se a ver o resultado! Truques publicitários para atrair as massas, no género de “A sala está aquecida” ou “É permitido fumar no foyer durante o intervalo” ou ainda “Os estudantes e os militares, desde o general ao soldado raso, pagam meio bilhete”, todas estas astúcias não conseguiram encher os teatros, como estão a ver!
E tudo o que se gasta num teatro com publicidade passará a ser economizado a partir do momento em que o teatro se torne obrigatório. Será porventura necessário pagar publicidade para se mandar as crianças à escola obrigatória?
Como também deixará de haver problemas com o preço dos lugares. Já não dependerá da condição social, mas das fraquezas ou da invalidez dos espectadores.
Da primeira à quinta fila, ficarão os surdos e os míopes!
Da sexta à décima, os hipocondríacos e os neurasténicos!
Da décima à décima quinta, os doentes da pele e os doentes da alma.
E os camarotes, frisas e galerias serão reservados aos reumáticos e aos asmáticos.
Tomemos por exemplo uma cidade como Lisboa: descontando os recém-nascidos, das crianças com menos de oito anos, dos velhos e entrevados, podemos contar com cerca de dois milhões de pessoas submetidas ao teatro obrigatório, o que é um número bastante superior ao que o teatro facultativo nos oferece.
Ensinou-nos a experiência que não é aconselhável que os bombeiros sejam voluntários e por isso se constituiu um corpo de bombeiros. Por que razão o que se aplica aos bombeiros não se aplicará também ao teatro? Existe uma íntima relação entre os bombeiros e o teatro. Eu que ando pelos bastidores dos teatros há tantos anos, nunca montei nem vi uma só peça que não tivesse um bombeiro presente na sala.
O T.O.U., Teatro Obrigatório Universal, que propomos, chamará ao teatro numa cidade como Lisboa*, cerca de dois milhões de espectadores. É pois necessário que, numa cidade como Lisboa, haja: ou vinte teatros de cem mil lugares, ou quarenta salas de cinquenta mil lugares, ou cento e sessenta salas de doze mil e quinhentos lugares, ou trezentas salas de seis mil duzentos e cinquenta lugares, ou seiscentas e quarenta salas de três mil cento e vinte cinco lugares ou dois milhões de teatros de um único lugar.
É preciso que cada um trabalhe no Teatro para se dar conta da força que daí nos pode advir, quando o ambiente de uma sala à cunha, com o público de – digamos – cinquenta mil pessoas nos arrebata!
Aqui tendes o verdadeiro meio de ajudar os teatros que estão pelas ruas da amargura. Não se trata de distribuir bilhetes à borla.
Não, há que impor o teatro obrigatório! Ora quem poderá impor senão… o ESTADO.

Karl Valentin

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Explicar o (sub)mundo da Arte de Representar em Portugal curto e grosso.
Pode perfeitamente ser replicado para qualquer área profissional:

A MÃO-DE-OBRA ESTORVA!!!!