quinta-feira, 18 de julho de 2019

Terminar uma amizade custa muito

 POEMA DAS ÁRVORES

 As árvores crescem sós. E a sós florescem.
Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.
Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.
Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.
E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.
Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.
As árvores, não.
Solitárias, as árvores,
exaram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua .
Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
A crescer e a florir sem consciência.
Virtude vegetal viver a sós
E entretanto dar flores.

António Gedeão (1906-1997),
in “Obra Poética”, edições JSC, 2001.

"Não se adicionam os amigos do peito", diz a Inês Maria Menezes.
Estou com um nó na garganta.
Terminar amizades ao longo da "volta a Portugal em bicicleta" que tem sido a minha vida eu já dou de barato... As mudanças de morada cortaram a entrega de correspondência, os carris da vida divergiram tanto que nunca mais chegaram a estação nenhuma, sei lá....
Terminar amizades sem sair do sítio, foi a primeira vez que me aconteceu. Pela boca seca e tremor no corpo, percebo agora que custa muito.
Não tenho mais a acrescentar a este fabuloso Amor é, pois sei agora que o luto tem que ser feito, não terei a sorte de voltar a ter amigos do peito tão próximos , geograficamente, de mim, mas a vida continua a valer a pena e, a amizade, a relação mais importante na vida.

S´il me reste un ami qui vraiment me comprenne
J´oublierai à la fois mes larmes et mes peines