«Eu sempre achei que os crentes eram pessoas que se sentiam fracas e por isso veneram algo forte.»
«Isso é o que eles pensam. O adorador dota de poder o objecto adorado, um poder real, não um poder imaginário, é esse o sentido da prova ontológica, uma das ideias mais ambíguas que os homens alguma vez tiveram. Mas este poder é uma coisa temível. O nosso deus é feito dos nossos desejos e dos nossos apegos. E quando nos desligamos de uma coisa, outra surge de imediato, à maneira de consolação. Nós nunca renunciamos inteiramente a um prazer, apenas o trocamos por outro. Toda a espiritualidade tende a degenerar em magia, e o uso da magia tem implícito uma nemésis automática, mesmo quando o espírito foi purgado dos hábitos mais grosseiros. A magia branca é uma magia negra. E qualquer intromissão menos que perfeita no mundo espiritual pode gerar monstros para os outros. Os demónios usados para o bem podem continuar por aqui e depois provocar estragos. O ultimo feito é abdicar completamente da magia, pôr fim aquilo a que chamas superstição . Mas como é que isso acontece? A bondade significa renunciar ao poder e agir negativamente sobre o mundo. Os bons são inimagináveis.»
O Mar, o Mar
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