domingo, 12 de abril de 2020

Dia 28* - um embuste perfeito...

...ou como os humanos adoram fábulas

"A expressão mais alegre da natureza: nos passarinhos nem sequer o medo é verde e abjecto como nos homens, e não por se esconder debaixo das penas, pois aparece de forma evidente, sem alterar de modo nenhum o seu elegante organismo. Deve-se, pois, crer que os seus cerebrozinhos não o conheçam. O alarme advém da vista ou do ouvido e, com a pressa, passa directamente para as asas. Mas que bela coisa um cerebrozinho desprovido de medo num organismo em fuga! Um dos bichinhos sobressaltou-se? Fogem todos, mas de um modo que parece que dizem: eis uma boa ocasião para ter medo. Não conhecem hesitações. Custa tão pouco fugir quando se tem asas. E o seu voo vai seguro. Evitam os obstáculos roçando neles e atravessam o mais denso emaranhado de ramos de árvore sem se deixarem prender ou ferir. Pensam apenas quando já estão longe e procuram então compreender o motivo da fuga, estudando lugares e coisas. Inclinam, graciosos, a cabecinha para a direita e para a esquerda, esperando pacientemente poder regressar ao sítio de onde fugiram."




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