(...) O homem aguarda até que por fim começa a clássica contagem decrescente. O fim do ano aproxima-se:
9,8,7,6,5,4,3,2
e, de súbito, algo pára, encrava, repete, enrola-se sobre si mesmo, morde a cauda, não sabe como avançar, está cego e pára, não tem pernas e por isso não avança, encrava, enrola-se, morde a cauda, repete-se, pára, encrava-se; como nas antigas cassetes, a sensação é de que a fita ficou presa no n.º 2.
(...)
Encravou no dois.
(...)
O 1 não veio, o zero não veio.
O homem ainda não viu o fim do ano e no entanto já passou muito tempo, tempo demais, tempo suficiente.
(...)
Através do vidro da janela o homem vê que lá fora o novo ano está em marcha e, por isso, quando roda a cabeça e com os olhos vasculha os vários compartimentos da sua casa, assusta-se.
(...)
Na contagem decrescente ele está no dois. Ou seja, está a dois segundos de uma grande alegria.
O que o angustia é pensar que pode ficar assim muito tempo, muitos anos mesmo.
Toda a sua vida até.
Gonçalo M. Tavares in Visão de 01-01-2009
"...para ser lido da mesma forma como muitas vezes os gatos entram na nossa vida... ou seja, ao acaso..."
quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
António Lobo Antunes
Gonçalo M. Tavares
Agora, sinto que chegámos a uma clareira e que é preciso um novo leitor. Aqui não se pode sair da frase que se está a ler. E isso é absolutamente novo.
O ponto é esse. As palavras são aquelas e não podem ser outras.
Muitas pessoas podem sentir dificuldade em ler porque há uma necessidade de referência.
Tambem dizem que os livros são tristes, mas o que é importante é o prazer da leitura. Não há nada melhor do que ler um livro. As obras de arte são como os tigres. Não se devoram entre elas. Encontrar alguém com talento é uma felicidade, encontrar um livro bom é uma festa, uma alegria.
A mim irrita-me o desperdicio de tempo.Às vezes, apetece-me bater em algumas pessoas que tiveram a possibilidade de ler e não leram.
O tempo está ligado ao dinheiro. Quando me deram o Prémio(...), perguntaram-me o que ia fazer com o dinheiro. Eu respondi que ia comprar tempo.
Devia ter dito que ia comprar um bolo económico e uma carcaça. Ninguém pergunta a um banqueiro o que é que ele vai fazer ao dinheiro, mas perguntam-no a um escritor como se nós fôssemos mendigos. Parece uma tia minha que, quando dava uma esmola, dizia: «Agora não gaste tudo em vinho».
Há uma desvalorização da palavra. E sobretudo da palavra oral.
É engraçado isso de escrever num instante. Vamos imaginar que se escreve um texto em 20 minutos. A questão é que não são apenas aqueles 20 minutos, a questão é: quem é que paga os 40 anos que a pessoa esteve a ler?
O que me parece é que é fácil fazer coisas aos 38 anos. O dificil é continuar, continuar, continuar... Porque está tudo lá fora. Há raparigas bonitas a passar e nós sentamo-nos a escrever.
Às vezes sento-me contrariado, não me apetece.
A parte mais dificil é mesmo sentarmo-nos.
E resistir às tentações.
Revista Visão, 23 de Outubro de 2008
Gonçalo M. Tavares
Agora, sinto que chegámos a uma clareira e que é preciso um novo leitor. Aqui não se pode sair da frase que se está a ler. E isso é absolutamente novo.
O ponto é esse. As palavras são aquelas e não podem ser outras.
Muitas pessoas podem sentir dificuldade em ler porque há uma necessidade de referência.
Tambem dizem que os livros são tristes, mas o que é importante é o prazer da leitura. Não há nada melhor do que ler um livro. As obras de arte são como os tigres. Não se devoram entre elas. Encontrar alguém com talento é uma felicidade, encontrar um livro bom é uma festa, uma alegria.
A mim irrita-me o desperdicio de tempo.Às vezes, apetece-me bater em algumas pessoas que tiveram a possibilidade de ler e não leram.
O tempo está ligado ao dinheiro. Quando me deram o Prémio(...), perguntaram-me o que ia fazer com o dinheiro. Eu respondi que ia comprar tempo.
Devia ter dito que ia comprar um bolo económico e uma carcaça. Ninguém pergunta a um banqueiro o que é que ele vai fazer ao dinheiro, mas perguntam-no a um escritor como se nós fôssemos mendigos. Parece uma tia minha que, quando dava uma esmola, dizia: «Agora não gaste tudo em vinho».
Há uma desvalorização da palavra. E sobretudo da palavra oral.
É engraçado isso de escrever num instante. Vamos imaginar que se escreve um texto em 20 minutos. A questão é que não são apenas aqueles 20 minutos, a questão é: quem é que paga os 40 anos que a pessoa esteve a ler?
O que me parece é que é fácil fazer coisas aos 38 anos. O dificil é continuar, continuar, continuar... Porque está tudo lá fora. Há raparigas bonitas a passar e nós sentamo-nos a escrever.
Às vezes sento-me contrariado, não me apetece.
A parte mais dificil é mesmo sentarmo-nos.
E resistir às tentações.
Revista Visão, 23 de Outubro de 2008
sábado, 18 de outubro de 2008
envidio
O que será o silêncio? Como pode o poema
partir do que ignoramos e a que damos um nome
sem saber a sua natureza e qual a sua plenitude?
Não será ele apenas um pressentimento um frémito
sem existência própria um irredutível quase
que nunca chegasse à revelação de um termo ou ao cimo de si mesmo?
Nós sentimo-lo como se a luz vagarosamente repousasse
numa onda de suavidade e o barco do efémero
revelasse a plenitude do eterno a essência viva
do nosso ser sob o voluptuoso véu de um sono imaculado
Sentimos a nudez da brancura e nela o princípio o centro e o alvo
do nosso desejo de coincidir com a indizível formosura
que numa onda silenciosa ascende e sem se revelar culmina
numa corola transparente ou num jardim de nuvens
de que só apercebemos o aroma branco e subtil
que não embriaga mas nos inebria como se vogássemos numa lua
que fosse unicamente aérea e de pura identidade
Será que o poema poderá suster a sua verde adolescência
e receber este sopro diáfano para que ele próprio seja um astro de silêncio?
antónio ramos rosa
partir do que ignoramos e a que damos um nome
sem saber a sua natureza e qual a sua plenitude?
Não será ele apenas um pressentimento um frémito
sem existência própria um irredutível quase
que nunca chegasse à revelação de um termo ou ao cimo de si mesmo?
Nós sentimo-lo como se a luz vagarosamente repousasse
numa onda de suavidade e o barco do efémero
revelasse a plenitude do eterno a essência viva
do nosso ser sob o voluptuoso véu de um sono imaculado
Sentimos a nudez da brancura e nela o princípio o centro e o alvo
do nosso desejo de coincidir com a indizível formosura
que numa onda silenciosa ascende e sem se revelar culmina
numa corola transparente ou num jardim de nuvens
de que só apercebemos o aroma branco e subtil
que não embriaga mas nos inebria como se vogássemos numa lua
que fosse unicamente aérea e de pura identidade
Será que o poema poderá suster a sua verde adolescência
e receber este sopro diáfano para que ele próprio seja um astro de silêncio?
antónio ramos rosa
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
Aquele mês de Agosto
8.30 - José Silva acorda e constata que a sua casa foi assaltada durante a noite. Espreguiça-se. Toma banho tentando poupar a agua, toma o pequeno almoço tentando poupar o leite e põe-se a caminho do emprego tentando poupar os sapatos.
9.00 - empurra o carro até à bomba de gasolina e é assaltado duas vezes: a primeira pela gasolineira, que voltou a aumentar os preços do combustivel; a segunda por criminosos armados, que lhe levam o pouco que ainda lhe restava na carteira. Boceja. Conclui que prefere os segundos assaltantes, na medida em que roubam menos e com menos frequencia. Nota que, apesar disso, a policia não faz qualquer esforço para apanhar os primeiros.
10.00 - Já na estrada, é vitima de carjacking. Encolhe os ombros. Prossegue a pé
10.05 - Um gang tenta assaltá-lo. Explica que ficou sem a carteira num assalto anterior.
10.10 - Outro gang tenta asslatá-lo. Fornece a mesma explicação. Os membros do gang colam-lhe um autocolante na lapela para que futuros meliantes saibam que já foi assaltado nesse dia e evitem perder tempo com ele. Recomendam-lhe que retire o autocolante assim que voltar a transportar valores.
11.30 - Vai ao banco levantar dinheiro.
11.32 - Crimonosos armados irrompem no banco. Clientes e funcionários formam calmamente uma fila e tiram senhas para serem assaltados por ordem.
11.35 - O criminalista Moita Flores irrompe no banco e começa a comentar o assalto junto de um grupo de clientes. Tece várias considerações sobre um novo tipo de criminalidade violenta que parece estar a aumentar no nosso país, aponta as limitações da polícia e sublinha as incongruências do novo código de processo penal. Alguns clientes oferecem-se para serem sequestrados, caso os assaltantes lhes garantam que os levam para longe do criminalista Moita Flores.
11.45 - O criminalista Moita Flores interpela os assaltantes e comunica-lhes que o método que escolheram para levar a cabo o assalto não é o melhor, criticando sobretudo a não utilização de luvas e tecendo alguns reparos ao plano de fuga, que considera extremamente frágil.
11.46 - Um dos assaltantes dispara duas vezes sobre a perna do criminalista Moita Flores
11.47 - Clientes e funcionários do banco homenageiam os assaltantes com um forte aplauso.
17.30 - Depois de vários horas de sequestro, o assalto termina. A polícia detém os criminosos, resgata os reféns e amordaça o criminalista Moita Flores, para que vá receber assistência hospitalar.
18.00 - Por sorte, mal acaba de sair do banco, José Silva encontra o seu carro abandonado na berma da estrada. Entra no veículo e dirige-se para casa.
18.05 - É detido pela policia por se encontrar a conduzir um carro que foi usado em diversos crimes.
20.00 - É identificado e preso. Na cela, verifica que o relato da sua vida é extraordinariamente demagógico e conclui que toda a sua existência podia ter sido inventada por Paula Portas. Chora.
Ricardo Araújo Pereira in "Boca do Inferno", Revista Visão, 28 de Agosto de 2008
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
a saudade de um rio
"Se eu definisse o tempo como um rio,
a comparação levar-me-ia a tirar-te
de dentro da sua água, e a inventar-te
uma casa. Poria uma escada encostada
à parede, e sentar-te-ias num dos seus
degraus, lendo o livro da vida. Dir-te-ia:
«Não te apresses: também a água deste
rio é vagarosa, como o tempo que os
teus dedos suspendem, antes de virar
cada página.» Passam as nuvens no céu;
nascem e morrem as flores do campo;
partem e regressam as aves; e tu lês
o livro, como se o tempo tivesse parado,
e o rio não corresse pelos teus olhos.
Nuno Judice
a comparação levar-me-ia a tirar-te
de dentro da sua água, e a inventar-te
uma casa. Poria uma escada encostada
à parede, e sentar-te-ias num dos seus
degraus, lendo o livro da vida. Dir-te-ia:
«Não te apresses: também a água deste
rio é vagarosa, como o tempo que os
teus dedos suspendem, antes de virar
cada página.» Passam as nuvens no céu;
nascem e morrem as flores do campo;
partem e regressam as aves; e tu lês
o livro, como se o tempo tivesse parado,
e o rio não corresse pelos teus olhos.
Nuno Judice
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
in the cut
ou como as palavras nos podem obcecar...
"as calmas águas da água
sob uma fronde de estrelas
a calma água da tua boca
sob uma moita de beijos"
"as calmas águas da água
sob uma fronde de estrelas
a calma água da tua boca
sob uma moita de beijos"
"quero fazer contigo o que a Primavera faz com as cerejeiras"
.
.
"a meio caminho da jornada da vida
dei por mim num bosque escuro
porque me tinha afastado do caminho certo"
.
.
"afastado na distancia,
entrou na sala
está aqui no círculo"
.
.
"agora
pensando no curso da minha paixão
eu era como um cego
sem medo da escuridão"
sábado, 2 de agosto de 2008
tanto que fazer
tanto que fazer!
livros que não se lêem, cartas que não se escrevem,
línguas que não se aprendem,
amor que não se dá,
tudo quanto se esquece.
Amigos entre adeuses,
crianças chorando na tempestade,
cidadãos assinando papéis, papéis, papéis...
até o fim do mundo assinando papéis.
E os pássaros detrás das grades de chuva,
e os mortos em redoma de cânfora.
(E uma canção tão bela!)
Tanto que fazer!
E fizemos apenas isto.
E nunca soubemos quem éramos
nem para quê.
(1954)
Cecília Meireles in Antologia Poética
livros que não se lêem, cartas que não se escrevem,
línguas que não se aprendem,
amor que não se dá,
tudo quanto se esquece.
Amigos entre adeuses,
crianças chorando na tempestade,
cidadãos assinando papéis, papéis, papéis...
até o fim do mundo assinando papéis.
E os pássaros detrás das grades de chuva,
e os mortos em redoma de cânfora.
(E uma canção tão bela!)
Tanto que fazer!
E fizemos apenas isto.
E nunca soubemos quem éramos
nem para quê.
(1954)
Cecília Meireles in Antologia Poética
sábado, 5 de julho de 2008
os ventos do sul
Quando sopra o vento...
É poesia que paira no pensamento
é rima no prazer do momento
quando sopra o vento...
alguém lendo sua poesia
prestando atenção a cada acento.
Brisa???
Duvido... Mesmo os esquecidos
no encanto de suas poesias estão envolvidos... Brisa?
Não!
São palavras que viram tempestades
São poesias que viram saudades
Sonia Nogueira
quarta-feira, 2 de julho de 2008
quarta-feira, 18 de junho de 2008
dois
Inconstitucional era um rei triste. Disputava com o seu irmão Paralelipipedo o trono do País das Palavras.
(...)
Os números desejavam destruir o País das Palavras. Eram invejosos. (...)Os números odiavam principalmente o Exercito das Poesias, pois sabiam que era o mais poderoso.
(...)
Mas que fazer num tempo em que dominavam os fundamentalistas do Calão, uma estranha religião, um tempo em que nada mais era estupendo, glorioso, magnifico, no máximo era giro, era fixe.
(...)
Inconstitucional estava diante do espelho a reflectir, metaforicamente falando, sobre a situação, quando o palácio foi invadido por uma horda de ícones chineses, liderados por um indecifrável anagrama alemão. Inconstitucional quis resistir mas fora abandonado por todos. Só lhe restava a fidelidade da sua secreta amada Esperanto, mas que era, obviamente uma lingua inútil(...). E assim morreu Inconstitucional. Ao lado do seu corpo foi encontrado apenas um papel com o seu nome, umas aspas e um ponto final.
Edson Athayde, in O Indireita
(...)
Os números desejavam destruir o País das Palavras. Eram invejosos. (...)Os números odiavam principalmente o Exercito das Poesias, pois sabiam que era o mais poderoso.
(...)
Mas que fazer num tempo em que dominavam os fundamentalistas do Calão, uma estranha religião, um tempo em que nada mais era estupendo, glorioso, magnifico, no máximo era giro, era fixe.
(...)
Inconstitucional estava diante do espelho a reflectir, metaforicamente falando, sobre a situação, quando o palácio foi invadido por uma horda de ícones chineses, liderados por um indecifrável anagrama alemão. Inconstitucional quis resistir mas fora abandonado por todos. Só lhe restava a fidelidade da sua secreta amada Esperanto, mas que era, obviamente uma lingua inútil(...). E assim morreu Inconstitucional. Ao lado do seu corpo foi encontrado apenas um papel com o seu nome, umas aspas e um ponto final.
Edson Athayde, in O Indireita
segunda-feira, 16 de junho de 2008
Onde pára a Poesia....?
- 232 000 pessoas apoiadas pelo Banco Alimentar Contra a Fome
Revista Visão, 12 de Junho de 2008
sexta-feira, 30 de maio de 2008
vidro côncavo
Tenho sofrido poesia
como quem anda no mar.
Um enjoo.
Uma agonia.
Saber a sal.
Maresia.
Vidro côncavo a boiar
Dói esta corda vibrante
A corda que o barco prende
à fria argola do cais
Se uma onda que a levante
vem logo outra que a distende.
Não tem descanso jamais.
António Gedeão, Vidro côncavo
como quem anda no mar.
Um enjoo.
Uma agonia.
Saber a sal.
Maresia.
Vidro côncavo a boiar
Dói esta corda vibrante
A corda que o barco prende
à fria argola do cais
Se uma onda que a levante
vem logo outra que a distende.
Não tem descanso jamais.
António Gedeão, Vidro côncavo
quinta-feira, 29 de maio de 2008
equação
Conto os meus sonhos com a tábua
de calcular. Cada um deles é uma equação
diferente. Mas o resultado é só um:
a soma dos dias em que acordo.
quarta-feira, 28 de maio de 2008
Íssimo, íssimo. íssimo
O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas.
Essas e o que faz falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossívelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo, Cansaço...
Álvaro de Campos
domingo, 25 de maio de 2008
maçonaria
Há uma maçonaria do silêncio que consiste em não falar dele e de adorá-lo sem palavras.
(...)
Então ele, o silêncio, aparece. E o coração bate ao reconhecê-lo: pois ele é o de dentro da gente.
Clarice Lispector in Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres (1969)
quinta-feira, 15 de maio de 2008
a noite o riso - 3
O meu saber o mundo desde o começar: situação de naufrágio. Foi como se nascesse a bordo de jangada onde pessoas inseguras andassem reinando ao estamos-num-paquete. Vi água entrando como em passador, e lá-vai-d'eu, nadar até trepar noutra jangada. Quando esta segunda geringonça naufragou, foi nova natação até que entrei numa terceira. Já estou (momento actual) de novo a dar aos braços e às pernas; que a jangada III se está sumindo na profundidade das loucuras antiquíssimas.
Nuno Bragança in A Noite e o Riso (1969)
a noite o riso - 2
Recordo. Tempos em que temi ser diferente. E mais: o sossego sol de Abril quando percebi que o era mesmo, segundo as leis de ser pessoa. Só que muito poucos ousam abertamente as consequências, e são então explosões ou os pequenos golpes da cuidadosa, afiada sacanice. Quem frequentou determinados casamentos, ou tabernas em noite de jorna, viu.
Nuno Bragança in A Noite e o Riso (1969)
Nuno Bragança in A Noite e o Riso (1969)
quarta-feira, 14 de maio de 2008
Jardins há muitos...? ou parvos a votar são cada vez mais...?
"Se votarem nos conservadores, as vossas mulheres vão ter mamas grandes e as vossas Chances de conduzirem um BMW M3 aumentarão."
"sou a favor do casamento homossexual, mas se o autorizarmos também entre três homens ou mesmo entre três homens e um cão."
Alexander Boris de Pfeffel Johnson, novo presidente da Câmara de Londres (Revista Visão de 9 de Maio de 2008)
segunda-feira, 12 de maio de 2008
a noit e o riso - 1
O Doutor escreveu no quadro os dados do problema:
"Quando um pobre nos lambe as botas, devemos ou não untá-las previamente?
Em caso afirmativo, justifique a resposta."
(...)
Não tardei a ficar completamente absorvido pelo que aquele fedelho magro ia transportando dos miolos para o papel. Lembro-me perfeitamente, era assim:
1.1 Se o pobre me lambe as botas, espera que eu espere isso.
1.2 Se eu untar as botas com nada, o pobre pode pensar que eu sou
distraído ou
desconhecedor dos costumes ou
desprezador da miséria.
1.3 Qualquer destes três pensamentos pode fazer zangar o pobre, ou seja, levá-lo a cometer algum pecado.
1.4 Para impedir o pobre de pecar é pois necessário untar as botas que ele vai lamber.
2.1 Se eu untar as botas com qualquer dos produtos com que habitualmente elas se untam, o resultado pode ser idêntico ao de 1.2, com as nefastas consequências indicadas em 1.3.
2.2 Visto que devo untar as botas com um produto que me atrevo a chamar não-botoso, há que saber se este deve ser salubre ou insalubre.
2.3 Se o produto for insalubre, o pobre pode apanhar uma doença e morrer. Ora, não se deve matar pobres, porque cada um deles representa esmolas possíveis, quer dizer Boas Acções. Como dizia o Poeta, "os pobres são degraus da escada que conduz os ricos ao Céu"
2.4 O produto deve, portanto ser salubre, a fim de preservar a saúde dos pobres, a qual é a garantia físico-química da salvação dos ricos.
3.1 Se o produto for salubre, isso pode ter as seguintes consequências:
3.1.1 robustecer demasiado o pobre;
3.1.2 atrair um numero excessivo de pobres à lambedela.
3.2 A consequência 3.1.1 é de evitar, porque um pobre muito robusto decide-se a deixar de ser pobre, o que é um mal pela razão apontada em 2.3.
A consequência 3.1.2 também é de evitar, pelo mesmo motivo e ainda porque, quando o numero de pobres lambedores aumenta muito, a paciência do rico lambido diminui bastante.
3.3 O produto deve, pois, ser moderadamente salubre, até porque a moderação é a principal qualidade a exigir a um pobre.
Nuno Bragança in A noite e o Riso (1969)
sábado, 10 de maio de 2008
segunda-feira, 5 de maio de 2008
A TEORIA DA COR
"Pode um amigo colorido pôr-nos a vida a preto e branco? Pode. Até a pode pintar de negro e quase para sempre. Os amigos coloridos dão-nos momentos de prazer, novas perspectivas de vida (...), novas reacções ao êxtase, novo alento ao ego, novos comportamentos, outros comprimentos. Mas também tiram. Levam a inocência, alguma capacidade de acreditar que a coisa corra bem um dia, tiram o mistério da relação e consomem-nos apenas os fluidos.Afinal, o que têm eles de tão mágico? Muito. Tudo!Desaparecem no dia seguinte sem deixar rasto, nem um recadinho a dizer que o leite podia estar estragado. Mas isto não engana, porque afinal, sobre os amigos coloridos que são mágicos não podemos criar ilusões. Com eles não há recadinhos, não há frases feitas, nem mãos dadas na rua. Não há disponibilidade. A eles não se pode ligar a fazer queixa da constipação ou do almoço que foi caro. Com ele só se pode falar de dois assuntos: quando e onde. Todas as outras perguntas são secundárias. E a teoria destes amigos dos tempos modernos pode cair(...) no dia em que nos apaixonamos (cenário negro)... Mas cai de certeza por terra sempre que fazemos disso modo de vida (em branco)..."
Sofia Salazar
sábado, 3 de maio de 2008
não tenho tempo para isso
Eu não quero mudar o mundo.
Não tenho tempo para isso.
Quem quer mudar o lugar do mundo actua como quem
muda o lugar de um móvel:
empurra primeiro para um lado,
foi força demais,
empurra então para o outro lado,
agora com força de menos,
depois mais um pequeno toque para lá
e um ainda mais pequeno toque para lá,
e agora sim:
o móvel está no lugar.
Depois abrimos o móvel e vemos que os copos que estavam lá dentro se encontram todos partidos.
Estão a ver?
Os copos todos partidos.
Que aborrecimento.
Não nos lembrámos da fragilidade do vidro.
Gonçalo M. Tavares in "O homem ou é tonto ou é mulher"
quinta-feira, 1 de maio de 2008
inesperado
Vivemos com o inesperado todos os dias. Surpreende-nos, prega partidas, prepara! O inesperado prepara-nos, porque exige reacções, decisões e posições. (...). E, ali, de repente, à nossa frente, o inesperado exige de nós, incita a nossa inteligencia, puxa a nossa capacidade, pede a nossa lucidez.
O inesperado são surpresas que a vida nos faz. É um presente que não se espera, um telefonema que não se conta, um desafio que não se conhece.
O inesperado é a vida a acontecer, é o destino a falar. E quando o destino nos fala desta maneira, nesta linguagem, nós podemos admiravelmente corresponder com a nossa decisão e com a nossa coragem.
Ana Margarida Oliveira
Joaquim Cannas
in
Admirável Mundo
eles não podiam escapar
"... a demasiada oportunidade em demonstrarem os seus sentimentos proibia-lhes que falassem de amor, e mesmo foram-se habituando a um tipo de relações em que intervinha sobretudo um vexame de cumplices que a razão não aproximou. Pretendiam, ao ignorar que se amavam, afastar a ideia de terem aceitado favores apenas de coração. Mas todos os estados de alma exasperados conduzem ao amor, porque são afinal a ocupação exagerada dos outros. Eles não podiam escapar."
Agustina Bessa-Luís in "O Manto" (1961)
sábado, 26 de abril de 2008
dias com muuuuito sol dentro....
Lizz wright
.
my heart
.
My heart my head my mind my soul
My feelings over you
My tears my touch remember all that I am to you
My heart my mind my soul
My feelings over you
My tears my touch remember all that I am
When you're gonna pick up the phone and call me
Tell me I can come over
I got my ticket and my bags are packed
My coat is hangin' over my shoulder
Time is passing and it's getting late
This heart of mine just can't wait
And after all that we've been through
I maybe get there and I'll give it to you baby
My heart my head my mind my soul
My feelings over you
My tears my touch remember all that I am to you
My heart my mind my soul
My feelings over you
My tears my touch remember all that I am
Standing by the window and lookin' out
My heart is turning I want to shout
You're complicated I don't want to complain
The way you're acting can you explain
Why all this love is wasted on you
Can I live with all that is you
You say you love me silence I can't hear
All I want is to be near you baby
My heart my head my mind my soul
My feelings over you
My tears my touch remember all that I am to you
My heart my mind my soul
My feelings over you
My tears my touch remember all that I am
I'm looking for a reason to stay true
Looking for our love
Looking at me and looking at you
And even if I could turn away and then
I see that I'm falling in love again
Some times I wanna give you up
Some times I want to leave you alone
Some times I want to run away
And some times I want you to come back home
Come home to me yeah yeah baby
I know I know you'll be good for me
Come home come home
Yeah baby
I'm right here baby
Come home to me
Yes I'm right here baby
Yeah all I am to you
I know you feel me baby
Yeah yeah
Come on come on
Home to me
.
my heart
.
My heart my head my mind my soul
My feelings over you
My tears my touch remember all that I am to you
My heart my mind my soul
My feelings over you
My tears my touch remember all that I am
When you're gonna pick up the phone and call me
Tell me I can come over
I got my ticket and my bags are packed
My coat is hangin' over my shoulder
Time is passing and it's getting late
This heart of mine just can't wait
And after all that we've been through
I maybe get there and I'll give it to you baby
My heart my head my mind my soul
My feelings over you
My tears my touch remember all that I am to you
My heart my mind my soul
My feelings over you
My tears my touch remember all that I am
Standing by the window and lookin' out
My heart is turning I want to shout
You're complicated I don't want to complain
The way you're acting can you explain
Why all this love is wasted on you
Can I live with all that is you
You say you love me silence I can't hear
All I want is to be near you baby
My heart my head my mind my soul
My feelings over you
My tears my touch remember all that I am to you
My heart my mind my soul
My feelings over you
My tears my touch remember all that I am
I'm looking for a reason to stay true
Looking for our love
Looking at me and looking at you
And even if I could turn away and then
I see that I'm falling in love again
Some times I wanna give you up
Some times I want to leave you alone
Some times I want to run away
And some times I want you to come back home
Come home to me yeah yeah baby
I know I know you'll be good for me
Come home come home
Yeah baby
I'm right here baby
Come home to me
Yes I'm right here baby
Yeah all I am to you
I know you feel me baby
Yeah yeah
Come on come on
Home to me
terça-feira, 22 de abril de 2008
pequenas causas
(...)
- Não me beije - (...) - os beijos são um gesto mais, ao serviço das pequenas causas. Tenho um amigo que diz isso. Às vezes zango-me com ele, são zangas terríveis, não nos falamos durante quinze dias, e depois percebo que não estava zangada, mas que só procurava o desacordo com ele para não ficarmos parados nos sentimentos.
Agustina Bessa-Luís in "O Manto" (1961)
segunda-feira, 21 de abril de 2008
please don't go
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
(...)
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
(...)
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
(...)
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
(...)
domingo, 20 de abril de 2008
A segurança destas paralelas
- a beira da varanda e o horizonte;
assim me pacifico, e é por elas
que subo lentamente cada monte.
O tempo arrefecido, e só soprado
por uma brisa tarda que do mar
torna este minuto leve aconchegado,
traz mansas as certezas de se estar.
E vêm novos nomes: são as fadas,
gigantes e anões, que são assim
alegres de o serem - parcos nadas
que enchendo de silencios este sim
dele fazem brinquedos, madrugadas...
Agora eu estou em ti e tu em mim.
.
.
- a beira da varanda e o horizonte;
assim me pacifico, e é por elas
que subo lentamente cada monte.
O tempo arrefecido, e só soprado
por uma brisa tarda que do mar
torna este minuto leve aconchegado,
traz mansas as certezas de se estar.
E vêm novos nomes: são as fadas,
gigantes e anões, que são assim
alegres de o serem - parcos nadas
que enchendo de silencios este sim
dele fazem brinquedos, madrugadas...
Agora eu estou em ti e tu em mim.
Pedro Tamen
.
sexta-feira, 18 de abril de 2008
por timidez...?
Ciúme da saudade
.
.
se não matas a saudade
quando morres de vontade
de pôr à saudade fim
é talvez porque preferes
ter da saudade o que queres
e não me pedes a mim
é talvez porque preferes
ter da saudade o que queres
mas não me pedes a mim
ter da saudade o que queres
mas não me pedes a mim
a saudade em que me deixas
é penhor das tuas queixas
por não dizeres a verdade
bastava que me pedisses
de cada vez que me visses
o que pedes à saudade
o que dás se me não vês
não consigo que me dês
por timidez ou vaidade
e a saudade que vais tendo
com ela vives morrendo
para me matares de saudade
talvez seja o que tu queres
e é por isso que preferes
a saudade em vez de mim
morrendo os dois de saudade
temos toda a eternidade
para pôr à saudade fim
Manuela de Freitas
Fado de Camané
quinta-feira, 17 de abril de 2008
os novos senhorios.....
Governo alarga para 50 anos o prazo para pagar crédito à habitação bonificado
17.04.2008 - 11h53 PÚBLICO
O Governo vai aprovar hoje em Conselho de Ministros o alargamento de 30 para 50 anos dos prazos máximos para pagamento dos empréstimos para compra de casa em regime de crédito bonificado.
(...)
O ministro explicou que o Governo considera que o prazo em vigor já não fazia sentido, atendendo ao aumento da esperança de vida em Portugal.
quarta-feira, 16 de abril de 2008
aversão aristocrática
"Aliava sempre às mulheres uma impressão de certa aversão aristocrática, como se todas fossem demasiado vulgares nas sua invenções e impróprias para a inteligência da sensualidade; mas ao mesmo tempo, a vida completamente isolada da presença feminina causava-lhe pavor, e frequentemente se via Camilo empenhado num idílio intelectual em que imitava furtivamente as nuances do amor, o ciúme, o despeito ou o devaneio cavalheiresco. Camilo e as mulheres, era um diálogo quase trágico; e, se as divinizava algumas vezes, era para não ter que se ocupar delas."
Agustina Bessa-Luís in "O Manto" (1961)
terça-feira, 15 de abril de 2008
twelve... not sixteen....
Why does he still go on like she's a baby
Saying that's no kind of language for a lady?
He knows she hates that word, that's why he said it.
He can be childish too and she won't forget it.
'Don't tell me I don't understand,'
He said, 'I know I don't understand.
I understood when you were ten,
But nothing's added up since then.'
He said, 'I'll give you a piece of my mind
And you're not too old to take it.
' Oh, just a piece of my mind
That's him and her mum on honeymoon.
She was born in January and that was in June.
But now her life and his, they just don't mix,
And he don't like her boyfriends or her politics.
'Don't tell me what you think of me,
I know what you think of me.
I understood when you were ten,
But nothing's added up since then.
' He said, 'I'll give you a piece of my mind
And you're not too old to take it.'
Just a piece of my mind
Still he remembers her head
On the pillow of her little bed.
And then all at once she's sixteen
And now she hates him.
'Don't tell me you don't understand,'
She said, 'What is there to understand?
I've grown up since I was a kid
And maybe, Dad, it's time that you did.'
She said, 'I'll give you a piece of my mind
And you're not too old to take it,
Oh, just a a piece of my mind
And not too old
'Cause I'm not your baby,
Not your little girl.'
Not your babyNot your little girl
Everything but the girl
farol de multiplos espelhos
"Nenhum homem diga que conhece a feminilidade se apenas tomou contacto com as mulheres no leito, na oficina ou na escola; a feminilidade é outra coisa que não o sentimento do sexo oposto ou a experiência comum, é talvez a própria acção de existir, uma forma incorrupta de amar e uma expansão total da realidade. A feminilidade não é um rosto, uma indole; é uma transfiguração da aparência, uma liberdade que gira no seu eixo, como um farol de multiplos espelhos..."
Agustina Bessa-Luís in "O Manto"
segunda-feira, 14 de abril de 2008
exacta é a recusa
PERFEITO
Perfeito é não quebrar
A imaginária linha
Exacta é a recusa
E puro é o nojo
Sofia de Mello Breyner
Perfeito é não quebrar
A imaginária linha
Exacta é a recusa
E puro é o nojo
Sofia de Mello Breyner
Andresen
.
.
domingo, 13 de abril de 2008
se me puderes ouvir
o poder ainda puro das tuas mãos
é mesmo agora o que mais me comove
descobrem devagar um destino que passa
e não passa por aqui
à mesa do café trocamos palavras
que trazem harmonias
tantas vezes negadas:
aquilo que nem ao vento sequer
segredamos
mas se hoje me puderes ouvir
recomeça, medita numa viagem longa
ou num amor
talvez o mais belo
José Tolentino de Mendonça in "A noite abre meus olhos"
é mesmo agora o que mais me comove
descobrem devagar um destino que passa
e não passa por aqui
à mesa do café trocamos palavras
que trazem harmonias
tantas vezes negadas:
aquilo que nem ao vento sequer
segredamos
mas se hoje me puderes ouvir
recomeça, medita numa viagem longa
ou num amor
talvez o mais belo
José Tolentino de Mendonça in "A noite abre meus olhos"
The years was more than I could bear
So many times
I said that I love them
Looking over my shoulder at the door
So many times
I can't live without her
The wheel kept turning round
My feeling's changed
I went my own way
What can I say
To make you stay?
Cos in my dreams
They smother all over me
And I'm trying to explain
So many arms
Reach from my memories
Pull all at once
I'm lost amongst
The folds in their skin
I did you wrong
But I'm sorry now
And I'll show you how
If you were here now
You couldn't change
you wouldn't understand
but I'm ready now I'm ready now
I'll make you proud I was your man
and sing a song
but it's so ugly now
and I'll show you how
cos I'm ready now
I'm ready now
I'm ready now
I'm ready now
Hey I'm ready now
Can we start again?
so many times I said that I loved them
I'm ready now
but I'm ready now
Can we start again?
so many times
I can't live without her
The years was more than I could bear
It's turning round
But in my dreams Can we start again?
They smother all over me I'm ready now
And I'm trying to explain Can we start again?
So many arms reach from my memory
The wheels kept turning round
I said that I love them
Looking over my shoulder at the door
So many times
I can't live without her
The wheel kept turning round
My feeling's changed
I went my own way
What can I say
To make you stay?
Cos in my dreams
They smother all over me
And I'm trying to explain
So many arms
Reach from my memories
Pull all at once
I'm lost amongst
The folds in their skin
I did you wrong
But I'm sorry now
And I'll show you how
If you were here now
You couldn't change
you wouldn't understand
but I'm ready now I'm ready now
I'll make you proud I was your man
and sing a song
but it's so ugly now
and I'll show you how
cos I'm ready now
I'm ready now
I'm ready now
I'm ready now
Hey I'm ready now
Can we start again?
so many times I said that I loved them
I'm ready now
but I'm ready now
Can we start again?
so many times
I can't live without her
The years was more than I could bear
It's turning round
But in my dreams Can we start again?
They smother all over me I'm ready now
And I'm trying to explain Can we start again?
So many arms reach from my memory
The wheels kept turning round
sábado, 12 de abril de 2008
é muito boa pessoa
Desemprego dois
“O António? Está muito bem empregado. Sim, numa companhia de seguros no trabalho. É director de relações comerciais e olhe que ele merece pois é muito boa pessoa. Concurso? Qual concurso?! Ia lá agora passar por esse enxovalho! Foi um dos administradores – visita da casa dos pais, que lhe deu o empurrão final. Se despediram alguém? Não. Extinguiram um posto de trabalho e criaram outro.”
“O António? Está muito bem empregado. Sim, numa companhia de seguros no trabalho. É director de relações comerciais e olhe que ele merece pois é muito boa pessoa. Concurso? Qual concurso?! Ia lá agora passar por esse enxovalho! Foi um dos administradores – visita da casa dos pais, que lhe deu o empurrão final. Se despediram alguém? Não. Extinguiram um posto de trabalho e criaram outro.”
sexta-feira, 11 de abril de 2008
terça-feira, 8 de abril de 2008
quando tu chegas a terra treme e dançam as divindades
Senhora da tempestade
Senhora das tempestades e dos mistérios originais
quando tu chegas a terra treme do lado esquerdo
trazes o terramoto a assombração as conjunções fatais
e as vozes negras da noite Senhora do meu espanto e do meu medo.
Senhora das marés vivas e das praias batidas pelo vento
há uma lua do avesso quando chegas
crepúsculos carregados de presságios e o lamento
dos que morrem nos naufrágios Senhora das vozes negras.
Senhora do vento norte com teu manto de sal e espuma
nasce uma estrela cadente de chegares
e há um poema escrito em página nenhuma
quando caminhas sobre as águas Senhora dos sete mares.
Conjugação de fogo e luz e no entanto eclipse
trazes a linha magnética da minha vida Senhora da minha morte
teu nome escreve-se na areia e é uma palavra que só Deus disse
quando tu chegas começa a música Senhora do vento norte.
Escreverei para ti o poema mais triste
Senhora dos cabelos de alga onde se escondem as divindades
quando me tocas há um país que não existe
e um anjo poisa-me nos ombros Senhora das Tempestades.
Senhora do sol do sul com que me cegas
a terra toda treme nos meus músculos
consonância dissonância Senhoras das vozes negras
coroada de todos os crepúsculos.
Senhora da vida que passa e do sentido trágico
do rio das vogais Senhora da liturgia
sibilação das consoantes com seu absurdo mágico
de que não fica senão a breve música.
Senhora do poema e da oculta fórmula da escrita
alquimia de sons Senhora do vento norte
que trazes a palavra nunca dita
Senhora da minha vida Senhora da minha morte.
Senhora dos pés de cabra e dos parágrafos proibidos
que te disfarças de metáfora e de soprar marítimo
Senhora que me dóis em todos os sentidos
como um ritmo só ritmo como um ritmo.
Batem as sílabas da noite na oclusão das coronárias
Senhora da circulação que mata e ressuscita
trazes o mar a chuva as procelárias
batem as sílabas da noite e és tu a voz que dita.
Batem os sons os signos os sinais
trazes a festa e a despedida Senhora dos instantes
fica o sentido trágico do rio das vogais
o mágico passar das consoantes.
Senhora nua deitada sobre o branco
com tua rosa-dos-ventos e teu cruzeiro do sul
nascem faunos com tridentes no teu flanco
Senhora de branco deitada no azul.
Senhora das águas transbordantes no cais de súbito vazio
Senhora dos navegantes com teu astrolábio e tua errância
teu rosto de sereia à proa de um navio
tudo em ti é partida tudo em ti é distância.
Senhora da hora solitária do entardecer
ninguém sabe se chegas como graça ou como estigma
onde tu moras começa o acontecer
tudo em ti é surpresa Senhora do grande enigma.
Tudo em ti é perder Senhora quantas vezes
Setembro te levou para as metrópoles excessivas
batem as sílabas do tempo no rolar dos meses
tudo em ti é retorno Senhora das marés vivas.
Senhora do vento com teu cavalo cor de acaso
tua ternura e teu chicote sobre a tristeza e a agonia
galopas no meu sangue com teu catéter chamado Pégaso
e vais de vaso em vaso Senhora da arritmia.
Tudo em ti é magia e tensão extrema
Senhora dos teoremas e dos relâmpagos marinhos
batem as sílabas da noite no coração do poema
Senhora das tempestades e dos líquidos caminhos.
Tudo em ti é milagre Senhora da energia
quando tu chegas a terra treme e dançam as divindades
batem as sílabas da noite e tudo é uma alquimia
ao som do nome que só Deus sabe Senhoras das tempestades
MANUEL ALEGRE
domingo, 6 de abril de 2008
A ponte que nos une - é estar ausentes
Eu, Rosie, eu se falasse, eu dir-te-ia
Que partout, everywhere, em toda a parte,
A vida égale, idêntica, the same,
É sempre um esforço inútil,
Um voo cego a nada.
Mas dancemos; dancemos
Já que temos a valsa começada
E o Nada
Deve acabar-se também,
Como todas as coisas.
Tu pensas
Nas vantagens imensas
Dum par
Que paga sem falar;
Eu, nauseado e grogue,
Eu penso, vê lá bem,
Em Arles e na orelha de Van Gogh...
E assim entre o que eu penso e o que tu sentes
A ponte que nos une - é estar ausentes.
Reinaldo Ferreira
quarta-feira, 2 de abril de 2008
una palabra
Una palabra no dice nada
y al mismo tiempo lo esconde todo
igual que el viento que esconde el agua
como las flores que esconde el lodo.
Una mirada no dice nada
y al mismo tiempo lo dice todo
como la lluvia sobre tu cara
o el viejo mapa de algun tesoro.
Una verdad no dice nada
y al mismo tiempo lo esconde todo
como una hoguera que no se apaga
como una piedra que nace polvo.
Si un dia me faltas no sere nada
y al mismo tiempo lo sere todo
porque en tus ojos estan mis alas
y esta la orilla donde me ahogo,
porque en tus ojos estan mis alas
y esta la orilla donde me ahogo.
y al mismo tiempo lo esconde todo
igual que el viento que esconde el agua
como las flores que esconde el lodo.
Una mirada no dice nada
y al mismo tiempo lo dice todo
como la lluvia sobre tu cara
o el viejo mapa de algun tesoro.
Una verdad no dice nada
y al mismo tiempo lo esconde todo
como una hoguera que no se apaga
como una piedra que nace polvo.
Si un dia me faltas no sere nada
y al mismo tiempo lo sere todo
porque en tus ojos estan mis alas
y esta la orilla donde me ahogo,
porque en tus ojos estan mis alas
y esta la orilla donde me ahogo.
sexta-feira, 28 de março de 2008
unicornio
Mi unicornio azul
ayer se me perdió,
pastando lo deje y
desapareció.
Cualquier
información bien la
voy a pagar.
Las flores que dejó
no me han querido hablar.
Mi unicornio azul
ayer se me perdió,
no sé si se me fue,
no sé si extravió,
y yo no tengo más
que un unicornio azul.
Si alguien sabe de él,
le ruego información,
cien mil o un millón
yo pagaré.
Mi unicornio azul
se me ha perdido ayer,
se fue.
Mi unicornio y yo
hicimos amistad,
un poco con amor,
un poco con verdad.
Con su cuerno de añil
pescaba una canción,
saberla compartir
era su vocación.
Mi unicornio azul
ayer se me perdió,
y puede parecer
acaso una obsesión,
pero no tengo más
que un unicornio azul
y aunque tuviera dos
yo solo quiero aquel.
Cualquier información
la pagaré.
Mi unicornio azul
se me ha perdido ayer,
se fue.
Silvio Rodriguez
ayer se me perdió,
pastando lo deje y
desapareció.
Cualquier
información bien la
voy a pagar.
Las flores que dejó
no me han querido hablar.
Mi unicornio azul
ayer se me perdió,
no sé si se me fue,
no sé si extravió,
y yo no tengo más
que un unicornio azul.
Si alguien sabe de él,
le ruego información,
cien mil o un millón
yo pagaré.
Mi unicornio azul
se me ha perdido ayer,
se fue.
Mi unicornio y yo
hicimos amistad,
un poco con amor,
un poco con verdad.
Con su cuerno de añil
pescaba una canción,
saberla compartir
era su vocación.
Mi unicornio azul
ayer se me perdió,
y puede parecer
acaso una obsesión,
pero no tengo más
que un unicornio azul
y aunque tuviera dos
yo solo quiero aquel.
Cualquier información
la pagaré.
Mi unicornio azul
se me ha perdido ayer,
se fue.
Silvio Rodriguez
quinta-feira, 13 de março de 2008
O perfume alastra, a embriaguês começa....
São tão pequenas as flores de Seanu
Que quem as olha se sente um gigante.
Sou a primeira entre os teus amores,
Como jardim há pouco regado de ervas e perfumadas flores.
Ameno é o canal que tu cavaste
Pela frescura do vento norte.
Tranquilos os nossos caminhos
Quando a tua mão descansa na minha em alegria.
A tua voz dá vida, como o néctar.
Ver-te é mais do que alimento e bebida.
Se fores à casa coberta de hera
Antes dos outros convidados chegarem,
Põe-te à vontade
Na sala dos banquetes.
As flores mexem-se com a brisa,
A qual, se não estiver toda envolta em perfume,
Há-de conseguir levar até ti
Pelo menos a excelência de alguma da sua fragrância.
O perfume alastra,
A embriaguês começa.
Aquela rapariga ali, a que se parece com Noubt:
Se tiveres a sorte de a receber como presente,
Meu amigo, deves estar preparado para oferecer em sacrifício a tua vida
Pois é a única coisa que podes dar em troca.
A mansão do meu amor tem portas duplas,
Abertas de par em par.
Agora que se dana zangada
Eu queria ser o seu guarda
E receber as chicotadas da sua língua.
Assim poderia ouvi-la quando está zangada,
Como o ouriço novo a chiar de terror.
POEMAS DE AMOR DO ANTIGO EGIPTO
sábado, 8 de março de 2008
Dia 8 de março é dedicado à mulher. Dia Internacional da Mulher. A data foi encampada pela Unesco, em l977, como Dia da Mulher, como uma homenagem às operárias de uma fábrica de tecidos em Nova York. No dia 8 de março de l857, essas mulheres reivindicaram uma jornada de 10 horas de trabalho por dia e equiparação salarial com os homens que desempenhavam igual função.
Lutando pelos seus direitos essas valorosas mulheres decidiram por um protesto, seguido de uma greve. Os donos da fábrica, entretanto, quiseram dar uma solução rápida ao impasse e agindo em conjunto com a polícia, trancaram as portas de emergência do galpão das máquinas e atearam fogo, procurando mostrar a sua superioridade. Morreram 129 mulheres, por asfixia.
Lutando pelos seus direitos essas valorosas mulheres decidiram por um protesto, seguido de uma greve. Os donos da fábrica, entretanto, quiseram dar uma solução rápida ao impasse e agindo em conjunto com a polícia, trancaram as portas de emergência do galpão das máquinas e atearam fogo, procurando mostrar a sua superioridade. Morreram 129 mulheres, por asfixia.
domingo, 24 de fevereiro de 2008
sopra demais o vento......
Sopra de mais o vento
Para eu poder descansar...
Há no meu pensamento
Qualquer coisa que vai parar...
Talvez esta coisa da alma
Que acha real a vida...
Talvez esta coisa calma
Que me faz a alma vivida...
Sopra um vento excessivo...
Tenho medo de pensar...
O meu mistério eu avivo
Se me perco a meditar.
Vento que passa e esquece,
Poeira que se ergue e cai...
Ai de mim se eu pudesse
Saber o que em mim vai!...
Fernando Pessoa, in Cancioneiro
Para eu poder descansar...
Há no meu pensamento
Qualquer coisa que vai parar...
Talvez esta coisa da alma
Que acha real a vida...
Talvez esta coisa calma
Que me faz a alma vivida...
Sopra um vento excessivo...
Tenho medo de pensar...
O meu mistério eu avivo
Se me perco a meditar.
Vento que passa e esquece,
Poeira que se ergue e cai...
Ai de mim se eu pudesse
Saber o que em mim vai!...
Fernando Pessoa, in Cancioneiro
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